Crônicas de Porto Alegre 5
Prensa
Forum Social Mundial, Brasil, 28-1-01
Crônicas de Porto Alegre 5
Por rb.moc.oohay@oacmussaj
Foi uma verdadeira final de Copa do Mundo, a maior de todos os tempos. Cinco bilhões de pessoas de um lado, um bilhão de outro.
, mesmo, ou via satélite, uma boa parte do planeta vibrou, se irritou, riu e se emocionou torcendo por um mundo melhor.
O Centro de Eventos da PUC virou um estádio de futebol, domingo à tarde, para assistir a grande disputa entre os ricos e pobres, direto pela TV Educativa. Aparelhos de televisão (poucos)  foram dispostos em salas e nos corredores da PUC para o debate inédito. Pela primeira vez, na história da humanidade, pobres e ricos se colocaram frente a frente - mesmo que a muitos milhares de quilômetros de distância uns dos outros - para, cara-a-cara, dizerem claramente o que pensam. Goleada nossa, claro, de quem tem muito o que dizer, e não perdeu a oportunidade de fazê-lo. Foi uma tarde feliz de domingo, em que o nosso time lavou a honra, a dele e a de quem estava na arquibancada, vibrando como se estivesse em campo.
O debate entre participantes do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e o Fórum Econômico Mundial, em Davos, teve momentos espetaculares, lances inesquecíveis. A primeira foi a grande vaia para o megainvestidor George Soros, quando ele apareceu na tevê. É preciso confessar: a torcida esteve tensa até os instantes iniciais da partirda, enquanto a Davos fria e a quente não se entendiam em termos tecnológicos. Ruídos e cortes de transmissão contribuíram para dar o clima da batalha. Mas iniciou o "diálogo" e a ansiedade foi baixando, em vista da ótima atuação dos nossos craques, já nos primeiros minutos.
O time parecia aquela seleção do Zagallo, a tetra. Só pela esquerda. Sem ponteiro direito, a principal jogada do time do Hemisfério Sul era Oded Grajew aprofundar pelas laterais e cruzar para a mãe da Plaza de Mayo, Hebe de La Bonfini. De cabeça (protegida pelo lenço
com inscrições azuis) ela desferia petardos de dentro da grande área. Na "gaveta".
Bernard Cassen, então, bombardeou o pobre Soros, que mais parecia um franzino goleiro de várzea ante a bateria anticapitalista de Porto Alegre. "A-deus, So-ros! A-deus, So-ros!", a torcida parecia estar a fim de gritar, mas a correção de comportamento não permitiu manifestações mais exaltadas, antes do final do jogo. O grito de Porto Alegre estava preso na garganta, esperando para tripudiar em cima do investidor, mas só no fim.
E a cada chute de fora da área da seleção porto-alegrense retumbavam os gritos, aplausos  e sorrisos jocosos dos torcedores. A massa aglomerada torcia pelos dribles de Rafael Alegría, os balõezinhos de Njoki Njehu, os potentes chutes de La Bonfini.
E o Soros ficou brabo! Quis parar de jogar, ainda no meio da partida. Parecia um garotinho com a bola em baixo braço, fazendo beicinho: "eu não brinco mais". Sem argumentos, tentou usar a força do oponente, mas se deu mal. Bomba indefensável de Njoki Njehu de perna esquerda no canto direito:  mais um gol para Porto Alegre. O especulador Soros ainda se espichou para tentar pegar a bola, mas caiu num mar de lama que havia embaixo da goleira. 
E aquela hora, que ele disse queria vir "agora mesmo" à capital antineoliberal? Dá até para imaginar George Soros no FSM, levando bolsadas na cabeça, de um grupo de mães da Plaza de Maio, agüentando os desaforos de José Bové, os dedos e o bigode em riste e as vaias da geral derramando-se sobre o capitão do time de lá.
Agora, isso eu nunca tinha visto. Era como um jogo em que cada um fica num campo. Mundos paralelos? Para quem estava na sala da Ciranda, foi uma experiência estranha. Dois times, um em cada lado do Globo. Um representando 20% dos ricos, outro, os 80% dos pobres. Um mostrando com números e argumentos os maléficos efeitos da globalização, a contagem de sua infinidade de vítimas. Outro tentava defender o indefensável, na base do "não sabia", "do nunca tinha prestado atenção". Patético? Se fizeram de sonsos?
Bernard Cassen é que matou a pau ao perguntar para os ricos, "em que mundo vocês vivem?". Disse que eles tinham "que voltar para a Terra", que precisavam "colocar uns óculos enormes", para enxergar as mazelas do capitalismo. Inacreditavelmente, Soros respondeu que não via tanto malefícios assim. Miopia provocada pelo dinheiro. Pobre do homem.... Vítima do mal do acúmulo de capital... Efeio colateral de uma enfermidade que assola quase toda a humanidade.
Extraido del Sitio del Forum Social Mundial
Publicada em 28/01/2001 -
Crônicas - Chronicles
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