Comércio de grãos é concentrado


Prensa


Gazeta Mercantil, Brasil, 6-3-01

Comércio de grãos é concentrado


A comercialização da produção nacional de grãos está concentrada em meia dúzia de empresas, que respondem por cerca de 25% do mercado. A soja é um bom exemplo disso: do total de 31,6 milhões de toneladas produzidas em 2000, apenas três grupos abocanharam 60% da safra. No ano passado, o País colheu 83 milhões de toneladas de grãos.

O girassol é outro exemplo de comercialização concentrada. Apenas duas empresas ficaram com 32% das 97,4 mil toneladas colhidas no ano passado. Nas demais culturas, a comercialização é mais pulverizada. Com poucas opções, os produtores acusam os empresários de achatar os preços. Os empresários, por sua vez, dizem que o valor é ditado pelo mercado internacional.

Na avaliação de Carlos Roessing, pesquisador da área de economia rural da Embrapa, o mercado de soja é um oligopólio, com poucos compradores. Mas não acredito que, se houvesse maior quantidade de compradores, teria preço melhor, porque o preço é ditado por Chicago, argumenta. Para ele, o maior problema é o custo Brasil (transporte, portos, taxações). Roessing afirma que devido à margem pequena de lucro é que as empresas se juntaram, formando esse oligopólio.

Sem barganha

O analista Flávio França Júnior, da Safras e Mercados, acredita que este modelo é prejudicial porque o produtor tem menor quantidade de parceiros para negociar. E argumenta que o preço referencial é ditado pelo mercado internacional, mas isso não quer dizer que seja o valor pago no balcão, sobretudo se houver excesso de oferta.

Para Rui Carlos Prado, presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis (MT), com a concentração, o produtor perde cerca de 10% no preço. Ficamos sem poder de barganha,  argumenta. Segundo ele, as culturas de milho, feijão, arroz e algodão têm mais opções de venda. Na avaliação do sojicultor Egídio Raul Vuaden, de Lucas de Rio Verde (MT), o atual modelo é prejudicial. Ele diz que, sem ter onde armazenar, o produtor entrega à esmagadora a soja e, com isso, perde US$ 1 por saca. O ideal é prefixar o preço , alerta Vuaden.

Três grandes empresas - Bunge, ADM e Cargill - detém 60% da safra brasileira de soja. A multinacional Bunge Alimentos S.A. adquiriu 23,1% da produção nacional de soja em 2000. Para este ano, espera comprar 8 milhões de toneladas (22,7% da estimativa nacional). Herculano Domício Martins, diretor da empresa, diz que o parâmetro de preços é o internacional e que as indústrias exigem dos produtores padrões de qualidade preferidos pelos consumidores.

Cartel

Ou seja, grãos sem impureza e, no caso da União Européia, sem transgenia. O dirigente acha difícil a formação de um cartel por causa da cotação internacional, além da concorrência com as tradings. A Cargill, que detém 18,9% da produção de soja, não fornece informações sobre formação de preços.

Não se pode imaginar que o mercado se resuma ao Brasil ou a três grandes empresas. Não faz sentido. O mercado é aberto e cheio de opções , diz Bernard Hennief, diretor de grãos da ADM.  Segundo ele, as três juntas não têm condições de dominar o mercado e existem muitas pequenas empresas importantes. A ADM é a terceira esmagadora do País e, segundo Hennief, as três reunidas compram 20 milhões de toneladas. Assim como os demais empresários, ele afirma que o preço é ditado pelo mercado internacional.

Em Goiás, a Caramuru compra 25% da produção local e 5% da mato-grossense. Segundo o diretor-presidente da empresa, Alberto Borges, o preço está atrelado ao mercado internacional, por isso, a diferença entre os competidores é pequena. A empresa trabalha com produtores fixos, para os quais fornece financiamento dos insumos. No ano passado, a Caramuru respondeu por 46% das exportações de soja de Goiás.

Neila Baldi

de Brasília
( rb.moc.litnacrematezag@idlabcn)

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