Cai otimismo com biotecnologia nos EUA
Prensa
Folha de São Paulo, Brasil, terça-feira, 29 de agosto de 2000
TRANSGÊNICOS
Pesquisas indicam que não é tão divergente a opinião de europeus e
americanos sobre aplicações da genética
Cai otimismo com biotecnologia nos EUA
MARCELO LEITE, EDITOR DE CIÊNCIA
Prepare-se para rever tudo que você ouviu falar sobre a opinião de europeus e norte-americanos a propósito de alimentos transgênicos. Não é verdade -ou pelo menos não é exato- que na Europa existe aversão generalizada às biotecnologias, nem que nos Estados Unidos há consenso a favor.
Este é o resumo de quatro pesquisas de opinião publicadas simultaneamente na revista especializada "Nature Biotechnology" ( http://biotech.nature.com) de setembro. Elas foram feitas nos últimos dez meses na Europa, EUA, Canadá e Japão. Em todas observa-se um declínio no apoio.
A aplicação mais polêmica da biotecnologia são os alimentos transgênicos, plantas que recebem genes de outros organismos para ganhar novas características. Já está no mercado, por exemplo, uma soja modificada para resistir a herbicidas (pode-se pulverizar a plantação contra ervas daninhas sem matar a soja junto), mas ela ainda não foi autorizada no Brasil.
Nos Estados Unidos, pátria da agricultura transgênica, a maioria (52,8%) ainda declara uma expectativa otimista quanto às biotecnologias. Mas 30,1% afirmam que elas "vão piorar as coisas", um quadro que não combina muito com a imagem de um país monoliticamente pró-transgênicos.
Outra pesquisa mencionada na "Nature Biotechnology", aliás, j revelou que está caindo o número de pessoas convictas de que as biotecnologias vão trazer benefícios. Segundo o Conselho Internacional de Informações sobre Alimentos (Ific, na abreviação inglesa), de 78%, em 97, o contingente de otimistas baixou para 59%, em maio passado.
Como a energia nuclear
Outro sintoma de que pode ser iminente uma reviravolta do humor americano está na quase equiparação da engenharia genética com a famigerada energia nuclear.
Como seria de esperar, na Europa a tendência de declínio do otimismo com a biotecnologia alcança um patamar bem mais baixo. Apenas 46% dos entrevistados pelo Eurobarometer disseram que ela pode melhorar suas vidas, contra 50%, em 96, e 53%, em 93. O curioso é que não há uma recusa global das biotecnologias entre europeus, mas sim uma clara distinção entre suas aplicações, conforme o benefício potencial. Clones de animais são condenados, mas não a clonagem de células humanas, com vantagens mais evidentes para pessoas comuns.
A mesma dicotomia opõe a agricultura transgênica (como a produção de remédios em plantas) a seus produtos alimentares (que não trazem benefícios para o consumidor). A interpretação dada é que europeus se preocupam mais com segurança alimentar do que com efeitos ambientais.
Volver al principio
Principal
- Enlaces
- Documentos
- Campañas
-- Eventos
- Noticias
- Prensa
- Chat