Brasil: sinais de resistência transgênica a herbicida
A introdução da soja geneticamente modificada elevou a aplicação de agrotóxicos no país
O aumento derivou do maior uso de herbicidas à base de glifosato, um princípio ativo recomendado para a soja transgênica Roundup Ready, da multinacional Monsanto.
De 2000 a 2004, o consumo de glifosato cresceu 95% no Brasil, enquanto a área plantada de soja avançou 71%, segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). No Rio Grande do Sul, principal pólo nacional de soja transgênica, o consumo de glifosato cresceu 162% e a área total, 38%.
"O Rio Grande do Sul é um exemplo do que vai acontecer no país com esse uso de transgênicos", diz o geneticista Rubens Nodari, gerente de Recursos Genéticos do Ministério do Meio Ambiente. De acordo com os dados do Ibama, em Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, a utilização dos 15 principais herbicidas usados no grão cresceu 67% no período - para 15 mil toneladas - e a de glifosato, 93%. Nos quatro anos, a área plantada registrou salto de 95%, para 6,1 milhões de hectares.
O levantamento do Ibama indica que os produtores gaúchos de soja incrementaram em 106% o consumo dos principais herbicidas. O volume saltou de 9,8 mil para 20,2 mil toneladas no período. O consumo de glifosato no Estado teve uma elevação de 162%, para 19,3 mil toneladas. No mesmo período, a área plantada de soja no Rio Grande cresceu 38% e atingiu 4,1 milhões de hectares. "Essa área foi ocupada pela soja transgênica, o que elevou o consumo total de herbicidas", diz Nodari.
Estudo concluído por especialistas da Embrapa Trigo, Universidade de Passo Fundo (RS) e Fundação Centro de Experimentação e Pesquisa Fecotrigo (Fundacep) corrobora os dados do Ibama ao mostrar a relação entre o aumento da resistência de espécies de ervas daninhas invasoras em decorrência do uso contínuo de glifosato nas lavouras gaúchas de soja transgênica. "Aumentou o volume de glifosato porque ele tomou espaço de outros herbicidas", diz Leandro Vargas, pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo.
Os especialistas argumentam, porém, que os produtores têm usado o glifosato de forma excessiva e incorreta. "Eles usam na dessecação para fazer o plantio direto e ainda duas vezes na pós-emergência da planta", relata Vargas.
"Isso é terrível. Não pode usar mais que duas vezes na mesma área. Do contrário, cria-se mais ervas daninhas com resistência cada vez maior". Segundo ele, o produtor pode usar qualquer outro produto na pós-emergência da soja transgênica. "Não é apenas o glifosato".