Brasil: serra do Espinhaço 'sangra’

Idioma Portugués
País Brasil

A ameaça de instalação de pelo menos duas grandes minerações na região da Serra do Espinhaço, no Quadrilátero Ferrífero, e da construção de um mineroduto ligando a área ao porto de São João da Barra, no Rio de Janeiro, tem tirado o sono de ambientalistas e autoridades da região Central do Estado

O alerta foi feito ontem por representantes de prefeituras e de organizações ambientais. Liderado pela ex-primeira dama francesa Danielle Mitterand, o grupo apresentou um vídeo documentário ao secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, e a representantes de ONGs de outras regiões do Estado.

Os ambientalistas temem que, com a instalação das mineradoras, a água do local seja poluída ou simplesmente retirada dos rios. Para cada três quilos de minério explorado, a estimativa é que um litro de água seja consumido, no transporte ou lavagem do mineral. «Em tempos de falta de água no mundo todo, o que estão querendo fazer é mandar a água do Rio do Peixe, que já é pouca, para o Rio de Janeiro, misturada com minério», ataca o secretário de Meio Ambiente e Turismo de Conceição do Mato Dentro, Luiz Cláudio Oliveira.

Outra preocupação é a destruição do visual das encostas, mesmo que parcial, o que atrapalharia o ecoturismo.

Desde 2004, municípios vizinhos à Serra estão incluídos no circuito turístico da Estrada Real. A principal preocupação dos ambientalistas é a mineradora MMX, do empresário Eike Batista, que anunciou a construção do mineroduto em dezembro do ano passado. A previsão para o começo das operações é 2009. Há também suspeitas de que a Vale do Rio Doce e a Bunge - fabricante de fertilizantes e componentes agrícolas - estariam interessados em minerar na Serra. A outra preocupação é instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) pelo Global Bank. As centrais forneceriam energia para os outros empreendimentos.

Responsável por segurar a bandeira do movimento, a ex-primeira dama da França, Danielle Mitterand, acredita que as mineradoras podem acabar com um modo de vida. «O que queremos discutir é o modo de ocupação e de atividade econômica. Nem sempre o interesse do grande capital é o melhor para a população», disse ela. A humanista argumenta ainda que, com a implantação de um grande empreendimento, a cultura local acabe indo embora com a lama da mineração. «Ao degradar um meio ambiente com uma relação tão íntima com a cultura e o cotidiano local, a identidade deste povo pode ficar seriamente comprometida».

Presidente da Fundação France Libertés desde sua criação, há 20 anos, a veterana ativista tem fortes laços com a Serra do Espinhaço. A ONG foi uma das responsáveis pela inclusão do local na categoria de Reserva da Biosfera, aprovada pela Unesco em 2005.

Segundo o secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, o Governo ainda aguarda os primeiros pedidos de licença. «O processo será levado com toda a transparência e dentro da lei. Reconhecemos que se trata de uma área sensível, e a preocupação do Estado será proporcional a essa sensibilidade», garantiu. De acordo com o gerente executivo do Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) em Minas, Roberto Messias Franco, para a instalação do mineroduto, todos os municípios por onde a obra passe deverão ser ouvidos e terem suas compensações ambientais.

rb.moc.aidmeejoh@sanim

28-3-07

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