Brasil: palestrantes dos EUA condenam transgênicos

Agrolink, Internet, 24-3-03

Causaram polêmica os pronunciamentos dos norte-americanos Rodney Nelson e Dennis Kitch, feitos no auditório do Idaterra, no último dia 18, sobre o tema ?Transgênicos nos EUA?.

O primeiro, como agricultor do Estado de Dakota do Norte, com 4.000 hectares de lavouras, a maior parte plantada com soja, descreveu a sua má experiência com plantios de soja transgênica. Segundo ele, a sua grande decepção está no processo de dependência a que os agricultores ficam vinculados nas empresas de sementes, pagando preços extremamente altos e elevando o custo de produção, em relação às sementes convencionais. Além disso, os agricultores perdem soberania por não mais poderem escolher o que plantar.

Num país com inflação quase zero, a semente de soja saiu de US$ 6,00/bush para US$ 36,00/bush, significando acréscimo de 6 vezes, após o domínio das sementes transgênicas nos EUA. Neste ano há previsão de aumento com mais 13%, além disso, o herbicida glifosato tem causado resistência a plantas invasoras e vem aumentando a incidência de doenças de solo na soja americana, agravando a rentabilidade do negócio. O resultado disto é um custo de produção igual a US$ 5,5/bush. Segundo Rodney Nelson, ?os produtores americanos de soja somente estão sobrevivendo porque o Governo subsidia a produção?.

Outro drama dos produtores americanos, em relação às empresas de sementes transgênicas, é a mordaça legal imposta aos mesmos, pela qual o uso de sementes próprias ou sementes contaminadas com o gen patenteado subordina o agricultor a indenizar a detentora da patente. Rodney, como tantos americanos e canadenses, briga na Justiça americana contra ação indenizatória promovida por empresa detentora de gen patenteado. ?Infelizmente esse negócio de transgênicos quer nos transformar em serviçais dos seus interesses?, declara Rodney. O economista Dennis G. Kitch teve sua primeira experiência com o assunto transgênicos quando atuou como Agente de Desenvolvimento de Mercado à Soja Transgênica no Japão, por interesse dos EUA.

Segundo ele, a vedete de mercado para produtos não- transgênicos é o Brasil, se os brasileiros assim entenderem e souberem aproveitar a oportunidade. Se o Brasil construir a decisão de oferecer ao mercado produtos limpos, o País deverá, a curto prazo, ocupar o 1º lugar nas exportações de produtos agrícolas como soja, carnes, algodão e outros. A propósito, o Brasil ultrapassou os EUA nas exportações de soja, com faturamento em 2002 já próximo a US$ 7 bilhões. Segundo Dennis, viabilizar a segregação da produção é extremamente difícil e caro, e os fatos mostram que a soja brasileira já está recebendo US$ 0,3/bush a mais que a soja americana, pelo fato de não estar contaminada por transgênicos. ?Por isso, esta história de segregação é conversa fiada, por ser quase impossível. Quem produzir transgênicos naturalmente estará contaminando o meio, inevitavelmente.

?A lógica das multinacionais é contaminar o planeta com gens transgênicos para inviabilizar a produção convencional, e concentrar grandes lucros?, declarou Dennis. A prova disto é a contaminação dos EUA, Canadá, México, Argentina, etc., onde espécies nativas já apresentam contaminação transgênica, portanto vulneráveis a indenizações involuntárias. De outro lado, inúmeras empresas de sementes foram exterminadas, sobrando apenas cinco que dominam o mercado e concentram lucros fantásticos, em escala planetária.