Brasil: nova audiência sobre transgênicos revela fatos e desvenda mitos
Encontro na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados tratou da Lei de Biossegurança e os resultados obtidos por ela nos últimos dois anos
Brasília, DF - O tema era a Lei de Biossegurança e seus resultados em dois anos de existência, mas a audiência pública realizada na última terça-feira (08/05) na Câmara dos Deputados, em Brasília, serviu mais para revelar fatos sobre os transgênicos que geralmente são omitidos – e até mesmo escondidos – por seus defensores, além de desfazer alguns mitos sobre o assunto.
A audiência, realizada pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, contou com a participação de integrantes de ministérios que estão representados na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), cientistas e membros de entidades da sociedade civil, entre elas o Greenpeace.
“A reunião durou mais de duas horas e teve muita polêmica. Procuramos em nossa apresentação questionar alguns mitos dos transgênicos e analisar o atual funcionamento da CTNBio”, afirma João Alfredo Telles Melo, consultor de políticas públicas do Greenpeace que esteve presente à audiência pública.
Segundo João Alfredo, os destaques do encontro foram as intervenções de Rubens Nodari (Ministério do Meio Ambiente), que criticou a falta de transparência da CTNBio e a falta de procedimentos para a liberação comercial de transgênicos no Brasil, e de Magda Zanoni (Ministério do Desenvolvimento Agrário), que fez uma defesa apaixonada da necessidade dos cientistas abordarem o tema da engenharia genética multidisciplinarmente, com foco na sustentabilidade.
Falsa polarização
Jogar luz em alguns mitos dos organismos geneticamente modificados é fundamental para que os fatos possam aparecer com clareza. A falsa polarização entre ciência (dos defensores dos transgênicos) e obscurantismo (dos opositores) é um dos principais mitos que turvam a discussão.
“O debate inclui cientistas a favor e contra, mostrei que essa era uma visão reducionista, como se devêssemos considerar ciência apenas a engenharia genética, desconsiderando outros ramos científicos, como a Ecologia com sua abordagem sistêmica, a defesa da biodiversidade, a ética, a responsabilidade social”, avalia João Alfredo.
Um outro mito atacado de frente durante a audiência era sobre o crescimento das plantações de OGMs no mundo. Além de ser restrito a poucos países (EUA, Argentina e agora também Brasil e Índia), o aumento não determina que o assunto é consenso e muito menos encerra a discussão.
“O crescimento na produção de grãos (inclusive de transgênicos) não acabou com a fome no mundo, como previam as empresas de biotecnologia há 10 anos, e muitos países estão impondo barreiras aos OGMs, como é o caso do Uruguai, Grécia e outros países da União Européia”, enumera João Alfredo, lembrando que 68 das 109 indústrias de alimentos que atuam no Brasil aderiram à lista verde livre de transgênicos do Guia do Consumidor do Greenpeace.
Nova reunião
A reunião da Comissão marcada para os dias 17 e 18 de maio, em Brasília, será novamente aberta ao público e o Greenpeace e demais entidades da sociedade civil que querem garantir a biossegurança dos brasileiros estarão lá para participar. O encontro discutirá uma série de pedidos de liberação comercial de organismos geneticamente modificado, entre eles sete variedades de milho.
A reunião deverá contar ainda com a participação dos deputados federais integrantes da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.