Brasil: fracasso ambiental
Os números relativos ao desmatamento na Amazônia no biênio 2003-2004 atestam o fracasso das políticas do governo também nessa área
De acordo com o levantamento feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) com base em imagens de satélite, foram desflorestados no período 26.130 km2.
É a segunda maior área desde que se iniciaram os registros, em 88.
O dado é inquietante, porque representa um crescimento de 6,23% no desmatamento em relação ao biênio anterior.
Com base num levantamento on-line menos preciso, técnicos do governo esperavam um índice de apenas 2%, que, aliás, celebraram antes da hora.
Há, é verdade, algumas pequenas atenuantes para o Planalto.
O ano de 2004 foi de forte crescimento econômico (5%) e, sempre que a economia aumenta, a Amazônia diminui.
Além disso, o plano do governo para conter a devastação, conhecido como Desmate, foi lançado apenas um ano atrás e segue inoperante em boa parte do território.
Essas "desculpas", contudo, não mudam o quadro geral: o ritmo de desmatamento segue crescendo, e 18% da área original da floresta já se foram.
Isso equivale a um território maior do que os da França e de Portugal juntos.
É preciso fazer mais para conter a devastação.
O país já conta com leis severas e um Ministério do Meio Ambiente (MMA) relativamente atuante.
Existem também, pelo menos no papel, projetos viáveis de desenvolvimento sustentável da região.
O que parece faltar é uma fiscalização mais eficiente e menos corrupta e, principalmente, um real empenho do governo em impedir o desflorestamento.
Até se compreendem as razões do Planalto para não agir: um dos principais "inimigos" da floresta é o agronegócio, em especial a soja, que vem sendo a salvação da economia nacional nos últimos anos.
Nesse contexto, o governo deixa que o MMA atue como figurante na defesa da floresta, mas dá todo apoio ao agronegócio e patrocina projetos que favorecem o desmatamento, como a rodovia BR-163.
Essa é uma atitude esquizofrênica, que revela a pouca visão do atual governo.
A Amazônia precisa de uma política de Estado que olhe além do horizonte deste e dos próximos um ou dois mandatos.
Sem isso, os ricos ecossistemas que constituem a floresta -e que reúnem a maior biodiversidade do planeta- conhecerão o mesmo destino da mata Atlântica, que já cobriu enormes extensões do país: ser reduzida a umas poucas faixas em lugares de difícil acesso.
Coalición Rios Vivos, Brasil, 21-5-05