Brasil: desmate ameaça moratória da soja

Idioma Portugués
País Brasil

O aumento do ritmo das motosserras na Amazônia em áreas tradicionais de cultivo de soja em Mato Grosso ameaça a moratória da soja - pacto celebrado em 2006, por meio do qual a indústria de óleos vegetais e os exportadores de soja se comprometeram a não comercializar a soja produzida em áreas de desmatamento na Amazônia

A reportagem é de Marta Salomon e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 21-05-2011.

 

Os primeiros dados dessa ameaça apareceram nas imagens de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que registraram o aumento do abate de árvores sobretudo em Mato Grosso. Levantamento feito pelo Departamento de Geoprocessamento de Imagens da ONG Greenpeace, a que o Estado teve acesso, mostra coincidência entre as áreas de desmatamento e as grandes plantações de soja na região.

 

O município de Nova Ubiratã, por exemplo, que registrou 16% dos alertas de desmatamento no bimestre março-abril, detém 240 mil hectares de plantações de soja. Com 14% dos casos de desmatamento registrados, o município de Itanhangá tem 46 mil hectares de soja. A região está na fronteira entre os biomas Cerrado e Amazônia.

 

Não é possível afirmar que as áreas desmatadas recentemente serão destinadas ao cultivo de soja, até porque os produtores costumam recorrer ao plantio de arroz para preparar o solo para a soja, diz o Greenpeace, que coordena o pacto da soja com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

 

"Para a moratória sobreviver, a indústria da soja vai ter de dar uma resposta rápida e contundente de que esses produtores que desmataram não conseguirão vender sua produção. Ou a moratória vai para o vinagre", comentou Paulo Adário, diretor do Greenpeace. "Vamos seguir sem comprar de quem desmatou recentemente", adiantou Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove. "A moratória tem nos ajudado muito internacionalmente na comercialização de produtos brasileiros."

 

Vigia

 

O monitoramento da moratória da soja conta com uma parceria com o Inpe para detectar a presença de plantio em áreas desflorestadas. Em seguida, sobrevoos nas propriedades confirmam o cultivo de soja.

 

No terceiro monitoramento, feito na safra de 2009/2010, foram identificados 6,3 mil hectares de plantio de soja em área desmatada. Na ocasião, a Abiove justificou o aumento da área à conjuntura favorável do mercado internacional, que teria estimulado o crescimento do plantio sobre áreas de floresta. A área desmatada na época do último monitoramente correspondeu a 0,25% do desmatamento registrado nos Estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia.

 

Os indícios de que a expansão das plantações de soja teria contribuído para o aumento do desmatamento já são analisados pelo gabinete de crise criado para combater o aumento do ritmo das motosserras na região. Na próxima semana, responsáveis pela moratória da soja deverão ser convocados em Brasília para ajudar no combate ao desmatamento.

 

Instituto Humanitas Unisinos, Internet, 21-5-11

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