Brasil: brigada Indígena faz manifestação em almoço da Aracruz
"Vendidos!" Assim foram recebidos os deputados capixabas, os representantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), empresários e membros do governo do Estado, no almoço-palestra "A Cadeia Produtiva do Agronegócio - Caso Aracruz Celulose", promovido nesta quinta-feira (26), em Vitória
Com apitos e panfletos, a Brigada Indígena questionou os governantes.
Os manifestantes, que defendem a solidariedade aos povos indígenas de Aracruz, protestaram com faixas, apitos, cornetas, em frente ao Cerimonial Itamaraty, na Praia de Santa Helena, local onde o evento foi realizado. Todos os convidados da empresa, sem exceção, receberam informes enfatizando os prejuízos sociais e ambientais que a empresa traz ao Estado.
Segundo o convite para o almoço-palestra, o evento promovido pela Câmara de Comércio Americana do Espírito Santo (AmCham-ES), cujo presidente é o mesmo da Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, tinha o objetivo de divulgar dados sobre a cadeia produtiva da empresa e sua contribuição para renda, emprego, divisas e impostos.
Já no panfleto divulgado pela Brigada Indígena na porta do cerimonial, a imagem da empresa era outra. Nele, estavam contabilizados os 50 mil hectares de mata atlântica destruído pela empresa; os crimes ambientais como a destruição de uma área de preservação em Linhares no ano passado; o desemprego; o consumo exacerbado de água que a empresa não paga pela utilização; a sua responsabilidade pela destruição de nascentes e pequenos rios e córregos; a responsabilidade pelo desaparecimento de espécies da fauna nativa, e a tentativa de massacre de povos originários (índios e quilombolas), com o uso de suas terras tradicionais, e consequentemente, a destruição de suas formas de economia, socialização, cultura e referência histórica.
Apesar disso, muitos empresários chegaram a reagir: "Viva a Aracruz, é isso ai!", retratando o grande poder político e econômico da empresa no Estado.
Pela entrada, com forte segurança, passaram empresários, o presidente da Federação Nacional das Indústrias no Espírito Santo (Findes), Lucas Izonto, o vice-prefeito de Aracruz, Marcelo Coelho, o vice reitor da Ufes, Reinaldo Centoducatte; os deputados Guerino Zanon (PMDB), Hércules Silveira (PTB), Luzia Toledo (PTB), Cabo Josías da Vitória (PDT), o líder do governo na Assembléia Legislativa, o deputado Élcio Álvares (DEM), o deputado estadual licenciado e atual secretário de Agricultura César Colnago (PSDB), entre outros.
Todos, sem exceção, foram questionados. Os manifestantes chegaram a perguntar pessoalmente a cada um se o modelo de desenvolvimento da Aracruz Celulose é, de fato, o modelo de desenvolvimento escolhido para o Espírito Santo. Mas quase ninguém respondeu. Ao fundo, eles gritavam: "O senhor veio comer eucalipto?"
O presidente da AL-ES, Guerino Zanon (PMDB), que desceu de seu carro sorrindo, também foi questionado. Aos manifestantes, disse apenas: "Eu não conheço o modelo de desenvolvimento empregado pela Aracruz". O deputado foi então questionado: "O senhor é leigo então?" O deputado não respondeu, e seguiu sorrindo em direção à porta do cerimonial.
Os questionamentos aos convidados foram seguidos por gritos de protestos. Os manifestantes gritaram, apitaram e ressaltaram a importância da demarcação das terras indígenas e quilombolas que ainda estão em poder da Aracruz Celulose.
"Modelo de desenvolvimento destruidor não é modelo de nada"; "Vocês querem este modelo que acaba com o meio ambiente e com a água?"; "A Aracruz diz que tem compromisso social, é mentira da Aracruz, ela trata os índios mal", cantavam e gritavam.
Eles chamaram o evento de "circo montado" pela Aracruz Celulose, e criticaram a participação dos deputados e representantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Brigada Indígena: A Brigada Indígena é um grupo de apoio às comunidades indígenas Tupinikim e Guarani residentes no município de Aracruz, no norte do Estado. Seu principal foco é a homologação dos 11.009 hectares de terras indígenas - já reconhecidas como tradicionais - e que se encontram com seu processo parado na Funai.