Brasil: biocombustíveis: ele quer o nosso álcool
Produção de etanol domina agenda de Bush, que chega esta semana ao Brasil
Ponto de atrito entre os países da América do Sul – especialmente após o processo de nacionalização das reservas de gás e petróleo na Bolívia e da mudança dos contratos na Venezuela –, a energia passou a ser um dos principais temas da política externa brasileira e já traz como fruto o fortalecimento das relações entre Brasil e EUA. O tema ganhou tanta importância que o aumento da produção de etanol e outros combustíveis renováveis dominará a agenda do encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, na próxima sexta-feira, em São Paulo.
A visita de Bush chegou a ser destaque da edição do jornal americado The New York Times, no último sábado. De acordo com o periódico, o acordo, descrito como “um marco de entendimento”, promove a colaboração entre os dois países na pesquisa de biocombustíveis, o estabelecimento de padrões comuns e a ajuda a outros países para que adotem os avanços brasileiros no desenvolvimento do etanol.
Na avaliação do governo brasileiro, essa parceria é o começo de uma série de vantagens que o Brasil quer tirar da reaproximação com os EUA e do esforço da Casa Branca em evitar que Bush deixe como legado a guerra do Iraque. Por isso, o Itamaraty e o Planalto não se incomodam com olhares desconfiados de líderes da região que não se afinam com a política externa americana, como o venezuelano Hugo Chávez, o argentino Néstor Kirchner, o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa.
Partiu do Brasil a idéia de transformar o etanol em commodity internacional, expandindo a produção e fazendo do combustível, no futuro, uma alternativa a parte do petróleo consumido no mundo. Com os americanos, os brasileiros são responsáveis por mais de 70% da oferta mundial de álcool.
Para o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia, a visita de Bush ao Brasil é mais política do que econômica. Ele acredita que o etanol está sendo usado mais como justificativa para um encontro que deverá abranger temas delicados, como a esquerdização da América do Sul: “O etanol não tem a dimensão necessária para se tornar o eixo principal das relações Brasil- EUA. Mesmo porque Bush sempre teve forte ligação com as indústrias de petróleo.” Embora o governo espere sinais positivos de Bush quanto a linhas prioritárias defendidas por Lula, com destaque para a Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC) e a reforma das Nações Unidas, Lampreia é mais pessimista. Ele não acredita em avanços, pelo menos a curto prazo, nas áreas de comércio e segurança.
O mandato negociador conferido a Bush pelo Congresso americano, para que o Executivo possa firmar acordos na OMC, expira em junho deste ano. E os americanos continuam reticentes quanto à candidatura do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU – objeto de desejo de Lula, desde que ele venceu a primeira eleição.
Roteiro – O Brasil é uma das cinco nações latino-americanas que o presidente George W. Bush visitará esta semana. Também estão no roteiro Uruguai, Colômbia, México e Guatemala. Mas, para governo e especialistas brasileiros, Bush vê no País um contrapeso para a influência do venezuelano Hugo Chávez na região e deve repetir a Lula o pedido que fez no final de 2005, quando esteve em Brasília, para que o Brasil exerça um papel mais atuante na defesa da democracia no continente latino-americano.
Eliane Oliveira, da Agência O Globo de Brasília, com a Agência Efe, de Washington