Brasil: atual inimigo dos trabalhadores é o agronegócio, afirmam movimentos
O avanço do neoliberalismo não é exclusivo do meio urbano. Também no campo, os trabalhadores rurais acostumados a lidar com os antigos exploradores, constituídos basicamente pela burguesia agrária nacional, passaram na última década a enfrentar um novo inimigo: o agronegócio
Essa é a opinião dos movimentos sociais, sindicatos e entidades que lutam pela Reforma Agrária, reunidos no Encontro Terra e Cidadania, em Curitiba (PR).
O modelo imposto pelo capital financeiro internacional e implementado em parceria com os governos favorece a concentração de poder dessas empresas, que passam a ter controle sobre toda a cadeia produtiva, da patente das sementes até a comercialização em supermercados. Aliadas à antiga elite rural capitalista, geram o chamado agronegócio.
Com isso, a investida do capitalismo no campo alterou o caráter da questão agrária, sobretudo, obrigando os trabalhadores sem-terra a ampliar as formas de luta para enfrentar a concentração de terra.
“O inimigo dos trabalhadores não é mais o fazendeiro, pois agora quem manda no campo é o capital financeiro, são as transnacionais”, afirma João Pedro Stedile, dirigente do MST.
Para Alberto Brock, vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) é preciso pensar um novo modelo para o futuro. “Se continuarmos com esse modelo do agronegócio, nós vamos acabar com a agricultura familiar”.
A relação explícita entre transnacionais e concentração de terra podem ser medidas em dados. Em 1992, as grandes propriedades de terra representavam próximo de 2,4% dos imóveis cadastradas no Instituo Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Em 2003, dez anos depois, as grandes propriedades passaram a representar 1,6% dos imóveis cadastrados (69.123), ocupando 43,7% (183.463.319 há) do total de imóveis cadastradas no Incra.
Além de usadas no agronegócio por meio da monocultura de soja, da cana-de-açúcar, de milho, de eucaliptos entre outros, as terras também são compradas em grande escala pelos investidores internacionais que querem transformá-la em reserva de valor patrimonial.
Resistência
Para Marcos Rochinski da Federação dos Trabalhadores em Agricultura Familiar , a agricultura familiar é uma forma de resistência ao agronegócio e criticou a lógica da concessão de crédito agrícola para os agricultores.
“Hoje para você conseguir um crédito você obrigado a definir um produto. Isso é incentivar a monocutura. É incentivar um modelo de agricultura defendido pelo agronegócio. Temos que ter um crédito que a dialogue com a cultura da agricultura familiar que é a produção diversificada”, afirmou.