Brasil: a continuada devastação da Amazônia e o modelo de desenvolvimento
“Queremos um desenvolvimento que seja sustentável, economicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento”, Henrique Cortez
Henrique Cortez, é cientista social pela Universidade de São Paulo, com especialização em gerenciamento de riscos ambientais pela Northwest University/EUA.
Artigo publicado no Portal EcoDebate, 05-07-2011
Eis o artigo.
Dentre os movimentos sociais, os ambientalistas têm sido os críticos de primeira hora dos equívocos das políticas públicas, principalmente dos modelos econômico e de desenvolvimento, bem como de seus impactos sociais e ambientais.
Por diversas vezes alertamos que o processo de devastação avança sem controle e que não observamos medidas estruturais que possam interromper este processo equivocado de desenvolvimento, socialmente injusto e ambientalmente irresponsável.
Ninguém está propondo a insanidade de condenar a agricultura, mas não podemos aceitar os agrobandidos (grileiros e madeireiros ilegais), que ”abrem” espaço para pecuaristas e sojicultores. Este é o modelo de produção em terras públicas, crescentemente griladas.
Sempre insistimos nas nossas preocupações com o mais do que conhecido consórcio amazônico da devastação: grilagem-madeireiras ilegais-queimadas-pecuária-monocultura da soja. Não falamos da agricultura sustentável e responsável, nem do agronegócio em si, mas dos agrobandidos que se escondem atrás daqueles que produzem de forma correta e responsável. A imensa maioria dos produtores rurais é social e ambientalmente responsável.
No sul e sudeste do Brasil, os madeireiros sabem da importância do manejo florestal para a sobrevivência do próprio negócio. Não é o caso da Amazônia legal, porque é baseada apropriação e na grilagem de terras públicas, na fraude fundiária, no desmatamento ilegal e no trabalho escravo. A fraude fundiária é de tal monta que se todos os ”proprietários” reclamassem suas terras teríamos de invadir a Amazônia de sete países vizinhos.
Estes problemas fazem parte de um processo ilegal e irresponsável de ocupação da Amazônia, amplamente denunciado pelos movimentos sociais. Há décadas acontece da mesma forma e sempre na mesma seqüência: grileiros – madeireiros – queimadas – pecuaristas – produtores de grãos.
É importante destacar que o trabalho escravo é intensamente utilizado na primeira fase do processo – grilagem e desmatamento ilegal. É perfeitamente possível que os recursos naturais sejam usados de forma sustentável. A agricultura sustentável e ambientalmente responsável já é comum em boa parte do país. Não há porque isto não aconteça no Cerrado e na Amazônia.
No Cerrado e na Amazônia, há décadas, existe um gigantesco esquema ilegal e corrupto que se apropria dos ativos ambientais e que somente pode ser combatido sistemicamente, se o modelo de desenvolvimento for repensado. Na verdade deveríamos iniciar as discussões sobre este modelo econômico escorado na exportação de produtos primários, com destaque para minério, carne e grãos. É necessário questionar a quem serve este modelo e a quem beneficia.
Nossa compreensão de desenvolvimento é completamente diferente do que aí está. Queremos um desenvolvimento que seja sustentável, economicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento.
Precisamos iniciar as discussões sobre este modelo econômico escorado na exportação de produtos primários, com destaque para minério, alumínio primário, carne e grãos. É necessário questionar a quem serve este modelo e a quem beneficia.
Ou questionamos e encontramos um outro modelo de desenvolvimento ou continuaremos no modelo colonial de exportação de produtos primários. É o que fazemos desde o descobrimento (apenas mudamos de senhores ao longo do tempo) e ainda não chegamos lá.
Parafraseando o jornalista e ambientalista Washington Novaes, se devastação e exploração irracional de recursos naturais levasse ao desenvolvimento, já seríamos o mais rico e desenvolvido país do mundo. O aumento da devastação poderia ter sido evitado, mas não foi. E, se depender de medidas estruturais, continuará não sendo.