Brasil: Um rumo alternativo para a agricultura


Prensa



O Globo, Brasil, 6-2-03  - OPINIÃO
http://oglobo.globo.com/oglobo/opiniao/69451388.htm

Um rumo alternativo para a agricultura

JEAN MARC VON DER WEID*

Lula elegeu-se prometendo mudar o modelo de desenvolvimento, garantindo emprego e "fome zero" através do crescimento da economia e políticas sociais adequadas. Preocupado, corretamente, em não desestabilizar uma economia vulnerável ele manteve, de imediato, as grandes linhas do "malanismo", visando a acalmar o "mercado". Tudo isto se justifica pela necessidade de uma transição cautelosa, mas os milhões que votaram pelas mudanças ficariam mais confortados se soubessem que modelo é esse e como vai se dar a transição.

Tomemos a agricultura como exemplo. Lula entregou o Ministério da Agricultura para um expoente do agribusiness, o sr. Roberto Rodrigues. O modelo de agricultura que pratica e defende o ministro é o da chamada "revolução verde" que utiliza sementes melhoradas, adubos químicos, agrotóxicos e motomecanização pesada em grandes monoculturas. É um modelo caro e arriscado que já custou dezenas de bilhões de reais ao Tesouro. Por outro lado, o custo ambiental deste modelo é incalculável.

A agricultura familiar está em crise há muitos anos e não conta com os favores do Estado para sobreviver. Na última década, desapareceram cerca de 200 mil propriedades familiares a cada ano. No mundo inteiro, Brasil incluído, milhares de experiências envolvendo milhões de agricultores vêm demonstrando que há outras opções tecnológicas, chamadas de agroecológicas. A agroecologia consegue produtividades totais por hectare superiores aos sistemas convencionais através de sistemas diversificados empregando muito poucos insumos externos na propriedade. Por serem muito baratos, estes sistemas são muito menos arriscados para produtores com pouca disponibilidade de capital. Eles são também menos vulneráveis às variáveis climáticas e aos danos por pragas e invasores que afligem as grandes monoculturas. São sistemas de baixo impacto sobre o meio ambiente, nenhum impacto sobre a saúde dos produtores e impactos positivos na saúde dos consumidores.

O presidente Lula já visitou algumas destas experiências. Confiamos que ele atuará junto a seus ministros para que tais experiências possam se generalizar na agricultura brasileira através de políticas públicas que as favoreçam. Isto permitirá aquilo que o candidato Lula tanto pregou: uma verdadeira mudança no modelo de desenvolvimento agrícola do Brasil.



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