Brasil: Indústria resiste à rotulagem de transgênico

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País Brasil

Setor de alimentos diz que triângulo amarelo com T no meio passa imagem de produto perigoso; governo aceita negociar

Derrotada na votação da Lei de Biossegurança, que exige informaçãoaos consumidores nas embalagens de produtos que contenham organismos geneticamente modificados, a Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) quer mudar o triângulo amarelo com um T no meio -símbolo que há um ano deveria acompanhar as embalagens dos produtos que contenham mais de 1% de transgênicos.

"[A exigência de rotulagem] está em vigor, mas não está incorporada,porque a indústria não quer unir a sua marca a um alerta, como se fosse coisa perigosa", disse o diretor jurídico da Abia, Paulo Nicolellis Junior.

A Abia quer negociar a revisão do rótulo, assim como o percentual máximo fixado para dispensar a informação ao consumidor. Para a entidade, a legislação deveria tolerar até 4% de transgênicos na composiçãode alimentos, percentual que superaria a contaminação involuntária deinsumos usados na indústria de alimentos.

"O tal símbolo incomoda: não é informação, é um alerta. Incomodatambém o tal 1%, gostaríamos que fosse 4%. Vamos tentar reconversar", disseNicolellis.

Desde março de 2004, quando entrou em vigor a portaria do Ministério da Justiça que obriga a impressão do símbolo de transgênico no rótulodos produtos, já após prazo concedido para adaptação, não há notícia de que o triângulo amarelo tenha aparecido nos supermercados.

Em outubro do ano passado, o ministério começou a fiscalizar ocumprimento da portaria. Desde então, foram feitos 345 testes para detectar a presença de organismos geneticamente modificados em amostras de 294 produtos recolhidas em vários Estados. Os produtos foram escolhidos com base em lista do Ministério da Agricultura com produtos com maior probabilidade de conterem alteração genética. Nenhum dos testes indicou a presença de transgênicos acima de 1%.

O Ministério da Justiça mantém, porém, em sigilo novos testes emamostras recolhidas pelo Procon de Minas Gerais e que detectou a presença de organismos geneticamente modificados em produto não rotulado, informou Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico do ministério.

O fato de os testes contratados pelo ministério ao laboratório SGS (Société Générale de Surveillance) não terem encontrado vestígios de soja transgênica em amostras não significa que o grão modificado nãotenha sido usado. Goldberg citou o exemplo do óleo de soja, cujo processo industrial elimina registros do gene da soja.

O secretário de Direito Econômico disse que o ministério estádisposto a negociar a eventual substituição do rótulo definido por portaria em dezembro de 2003, após processo de consulta pública. "Estamosabsolutamente dispostos a conversar com a Abia para reduzir o alarmismo, desde que o direito do consumidor à informação seja respeitado", afirmou osecretário. "O que não aceitamos é não cumprir a regulamentação", completou.

Quanto ao limite máximo de presença de transgênicos que dispensa a rotulagem do produto, Goldberg alegou que 1% é o percentual usado emvários países do mundo. A União Européia, por exemplo, exige rotulagem acimade 0,9% de transgênicos na composição de determinado produto.

Favorável à liberação do plantio e da comercialização deorganismos geneticamente modificados, a Abia fez campanha contra o artigo da Lei de Biossegurança que reforçou a exigência de rotulagem dos produtos que contenham transgênicos.

Em carta a deputados e senadores, a Abia se manifestou "temerosa que se mantenha no projeto a desarrazoada orientação que se quer imprimir à rotulagem de alimentos contendo OGMs" e classificou o símbolo adotado após "malfadada" consulta pública de "aviltante".

A carta, assinada pelo presidente da Abia, Edmundo Klotz, diz que o símbolo de transgênicos "traz prejuízos à imagem dos produtos".

Folha de São Paulo, Brasil, 10-3-05

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Agora são as grandes empresas multinacionais e nacionais da indústria de alimentos que vão seguir o exemplo dos ruralistas, violentando explicita e alevosamente a legislação em vigor para proteger seus lucros e agredirseu próprio público consumidor.

Elas esperam que este governo mais uma vez reconheça com "quem" está falando, e acabe com a lei e as regras que ele mesmo criou para informar a quem come, se está comendo transgênico ou não.

Alguem acredita, se o governo subir o limite de 1% para 4% (mesmo que seja possível medir este percentual), que estes arautos da transgenia vão rotular seus produtos?

David Hathaway

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