Brasil: Greenpeace protesta em frente à Nestlé por transgênicos em ração
O Greenpeace realizou ontem manifestação na sede da Nestlé, na Zona Sul de São Paulo, contra a utilização de produtos transgênicos pela empresa. Um novo teste encomendado pela organização não-governamental (ONG) encontrou 60% de soja transgênica da Monsanto na ração para cachorros ALPO, da Purina
SÃO PAULO - "Recebemos, no início de março, carta da Nestlé declarando que não utiliza qualquer derivado de organismos geneticamente modificados em seus produtos. No entanto, essa é a maior quantidade de transgênicos já encontrada em um produto à venda no mercado brasileiro", disse Tatiana de Carvalho, assessora da entidade.
Vestidos com camisetas com o slogan "1º de abril, Dia da Nestlé", em referência ao Dia da Mentira, os manifestantes distribuíram panfletos aos pedestres e aos motoristas que entravam na empresa. Enquanto isso, três pessoas fantasiadas de pássaros ficaram dentro de um ninho gigante, representando o símbolo da Nestlé. Outros ativistas desceram de rapel pela sede da empresa e abriram uma faixa vermelha com a mesma mensagem das camisetas. A manifestação foi pacífica e durou cerca de 40 minutos.
Segundo Tatiana, o objetivo do Greenpeace é alertar o consumidor e os funcionários da empresa. "Esse produto foi fabricado antes da Medida Provisória que liberou a safra contaminada por transgênicos, no entanto prevê a rotulagem do produto. Mesmo o decreto anterior, que foi bloqueado por sentença judicial, previa a rotulagem para produtos com até 4% de transgênicos, não 60%".
A assessora do Greenpeace disse que a entidade estudava retirar a Nestlé do seu Guia do Consumidor, que traz a lista de produtos com ou sem transgênicos, mas a empresa mostrou que não tem controle sobre seus produtos. O teste com a ração foi realizado pelo laboratório Genescan, em Itu, São Paulo.
O Greenpeace já havia testado seis produtos da Nestlé e, em todos eles, o resultado foi positivo. O resultado deste último foi comunicado à empresa no dia 21 de março. "Queremos que a Nestlé garanta em países como Brasil, Filipinas e Tailândia, o mesmo padrão de qualidade de países europeus como Inglaterra, França e Itália", disse.
O laudo do laboratório foi encaminhado pela ONG à Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), às Agências da Vigilância Sanitária Estaduais e ao Ministério Público Federal, junto com uma carta solicitando o recolhimento do produto das prateleiras, por estar em desacordo com a legislação vigente. A Assessoria da Nestlé informou que a empresa irá se manifestar em breve sobre o assunto.
Empresa afirma que segue a legislação
A Nestlé Brasil divulgou nota onde diz cumprir as determinações legais na produção de produtos alimentícios e que continua a realizar controle permanente dos seus produtos, inclusive os destinados a animais domésticos, através de análises periódicas. A divulgação da empresa não faz referência direta à manifestação realizada ontem, na sede da Nestlé em São Paulo, pelo Greenpeace contra a utilização de organismos geneticamente modificados em seus produtos.
Um teste encomendado pela organização não-governamental (ONG) encontrou 60% de soja transgênica da Monsanto na ração para cachorros ALPO, da Purina, fabricada pela empresa.
Segundo o comunicado, a Nestlé Brasil esclarece que na fabricação de seus produtos, inclusive daqueles destinados à alimentação de animais domésticos, somente utiliza as matérias-primas, soja e derivados de soja, de procedência nacional e de origem comprovada.
Tribuna da Imprensa, Brasil, 2-4-03