Brasil: Amazônia terá mais onze hidrelétricas
O futuro da região Amazônica brasileira como grande fornecedora de energia elétrica não vai se limitar aos projetos já leiloados até 2010, que vão elevar de 10 mil para 30 mil megawatts (MW) a capacidade de produção da região. Depois de Belo Monte, Madeira e Teles Pires, a expectativa é de que nos próximos anos outras onze usinas hidrelétricas sejam licitadas na região, acrescentando mais 15,8 mil MW ao sistema
E para transportar os mais de 45 mil MW que serão produzidos na chamada Amazônia legal - que inclui a floresta de parte do Mato Grosso - para o centro de consumo do país, cerca de 23 mil quilômetros de linhas de transmissão serão construídos.
A reportagem é de Josette Goulart e publicada pelo jornal Valor, 03-01-2011.
O desafio continuará sendo o licenciamento ambiental. Os grandes linhões do Madeira, licitados em 2009, continuam sem licenciamento. E o governo terá ainda de leiloar importantes projetos para ligar outras usinas como a de Teles Pires e Belo Monte. Para os projetos futuros de usinas hidrelétricas, a grande expectativa dos investidores gira em torno dos projetos do complexo do rio Tapajós, no Pará, que vão somar 10 mil MW e já levam grandes investidores do setor a se movimentar e fazer estudos na região.
A principal usina, a de São Luiz do Tapajós, tinha previsão de ser leiloada no ano passado. Mas de acordo com o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, o projeto de estudo de impacto ambiental só terá início agora e a expectativa é de que o leilão aconteça em 2012. Pelo atual estudo de viabilidade, conduzido pela Eletrobras, a usina terá capacidade de gerar 6.133 MW, mas Tolmasquim diz que os estudos, que estão sendo feitos, indicam a possibilidade que esse potencial seja elevado.
Este ano, estão previstos os leilões das usinas Sinop e São Manoel, ambas fazem parte do complexo do rio Teles Pires e têm capacidade instalada, respectivamente, de 461 MW e 746 MW. A Neoenergia com Furnas e Odebrecht, como construtora, venceram o leilão da principal usina do complexo, do mesmo nome do rio, e com capacidade de 1,8 mil MW. A disputa pela usina foi acirrada e a Neoenergia baixou fortemente o preço, levando a concessão por R$ 58,36 o Mwh. O preço, com deságio de mais de 30%, surpreendeu até mesmo integrantes do governo federal.
As usinas do rio Teles Pires tiveram seus estudos de viabilidade integralmente realizados pela EPE, o que, segundo Tolmasquim, deu mais equilíbrio ao leilão realizado em dezembro. Quatro consórcio se inscreveram na disputa e tinham igualdade de informações públicas. "Quando a EPE faz os estudos, evita que um dos atores tenha informação privilegiada", disse Tolmasquim. A questão começou a ser amplamente discutida nos leilões das hidrelétricas do Rio Madeira. Odebrecht e Furnas realizaram os estudos de viabilidade e por isso acreditava-se que tinham informações privilegiadas em relação a outros competidores, apesar da obrigação de que todos os dados fossem divulgados.
De qualquer forma, no leilão de Jirau, o consórcio liderado pela GDF Suez com a Camargo Corrêa saiu vencedor alterando o eixo de construção da usina. Na tentativa de colocar a EPE como parte de qualquer estudo de viabilidade realizado, já foi enviada uma proposta ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) para que o órgão tenha poderes de fiscalização desses estudos e possa exigir relatórios parciais de todo o trabalho realizado. "Seria ainda interessante que ao fim de cada etapa do trabalho fosse realizado um seminário com exposição pública de todo o projeto", diz.
Se o planejamento realizado para o setor se concretizar, somente a região Norte passará a produzir 24% de toda a energia do país em 2019. Um salto de 277% e que vai tirar a importância do Sudeste no fornecimento de energia. A Amazônia legal, já com as licitações realizadas, será responsável por 30% de toda a geração hidráulica. Todos os grandes geradores de energia estão de olho nos projetos que virão. Em um setor que tem sido difícil a consolidação por meio da compra de ativos, as novas usinas, e as da Amazônia especificamente, vão desenhar o mapa dos grandes geradores do país.