Aquecimento ameaça a agricultura
Prensa
Brasil Online, Internet, 16-9-02
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Aquecimento ameaça a agricultura
Por Roberta Jansen
A Humanidade está diante de um novo impasse ambiental: precisa aumentar a produção de comida para alimentar a crescente população mundial, mas não pode fazer isso contribuindo ainda mais para as mudanças climáticas. Estudo divulgado pelas Nações Unidas estabelece uma relação direta entre a elevação das temperaturas e a vulnerabilidade da agricultura e faz um alerta: os países mais pobres, justamente aqueles que mais precisam produzir alimentos, serão os mais afetados.
No Brasil, as regiões mais atingidas seriam o Nordeste, que se tornaria ainda mais árido, e a Amazônia, que deixaria de ser tão úmida, pondo em risco a biodiversidade local. Denominado Mudanças Climáticas e Vulnerabilidade da Agricultura, o estudo de Mahendra Shah, Günther Fischer e Harrij van Velthuizen foi apresentado esta semana no Rio por Shah em palestra de abertura da FERTBIO 2002, evento organizado pela Embrapa e pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Países ricos se beneficiariam com mudanças
O estudo mostra que as mudanças climáticas podem ser benéficas para boa parte dos países desenvolvidos e devastadoras para a maioria das nações em desenvolvimento. Os EUA, um dos maiores beneficiados pelo aumento das temperaturas, são também os maiores opositores do Protocolo de Kioto - acordo internacional para a redução dos gases que contribuem para o efeito estufa.
- Altas concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera associadas ao aquecimento global provocarão o aumento do potencial agrícola de alguns dos principais países desenvolvidos, hoje muito frios - afirmou Shah, que é coordenador do Programa de Relações Internacionais da ONU. - No entanto, um grande número de países em desenvolvimento poderá perder uma proporção significativa de seu potencial de produção devido ao calor extremo.
As mudanças climáticas, explicou Shah, afetam a produção de alimentos sobretudo porque provocam a elevação média das temperaturas. Isso beneficia regiões muito frias, como o norte dos EUA, o Canadá e a Rússia - os dois últimos também se opunham ao Protocolo de Kioto, embora na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Johannesburgo, tenham admitido rever suas posições.
- Nos países desenvolvidos, o lobby mais forte costuma ser o agrícola, que exerce pressão considerável sobre os governos. Se os agricultores não são afetados, e em alguns casos se beneficiam, não vão pressionar - analisou Shah.
Segundo o estudo, os 40 países mais pobres do mundo, que em 2080 terão uma população estimada em três bilhões de habitantes, podem perder de 10% a 20% de seu potencial de produção de cereais em razão das mudanças climáticas.
Países da África sãoos que mais perderiam
As maiores perdas seriam registradas em países da África subsaariana, onde, atualmente, há 90 milhões de subnutridos. A pesquisa mostra também que as áreas áridas e semi-áridas - portanto impróprias para o plantio - deverão aumentar em mais de 10%. Em algumas regiões da África, esse percentual chegaria a 75%. Em contrapartida, os Estados Unidos ganhariam, potencialmente, mais de 30% de terras para a agricultura. A Rússia, mais de 55%.
O Brasil aumentaria de 1% a 12% seu potencial de produção de cereais, de acordo com o estudo. No entanto, uma elevação de temperatura de quatro a seis graus Celsius até 2080, provocaria graves impactos ambientais à Amazônia e ao Nordeste.
- A situação é preocupante - avaliou Shah. - Mas não precisa ser assim. Podemos tomar decisões para evitar isso.
Shah afirmou que o Protocolo de Kioto é extremamente importante para garantir a redução das emissões globais de gases, mas, para ele, deveria ser mais discutida a questão da adaptação dos países a novas realidades climáticas que surgirão independentemente do documento.
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