Ambientalista fala de fracasso em Nagoya
Fomos enganados. O acordo para salvar a natureza mundial nunca aconteceu, diz hoje no Guardian o colunista George Monbiot. Vinda dele, a opinião terá repercussão e vale ser reproduzida aqui. Monbiot é um engajado acadêmico, ambientalista, escritor e jornalista, e voz de peso nas questões ambientais
A notícia é do blog Planeta Sustentável, 04-11-2010.
"Países juntam forças para salvar a vida na Terra", disse em manchete de primeira página o jornal Independent", lembra ele. "Histórico", "um marco", "um incentivo moral", disseram outros jornais. Todo mundo disse que a declaração acordada na convenção da biodiversidade na semana passada no Japão, para proteger a biodiversidade planetária, foi um grande sucesso. Só há um problema: nenhum dos jornalistas que fizeram tais afirmações a viu, comenta Monbiot.
"Chequei com tantos deles quanto consegui contatar por telefone. Tudo que leram foi um comunicado à imprensa, que embora tivesse três páginas, não tinha conteúdo. Os repórteres não podem ser culpados por isto: a aprovação foi feita na sexta-feira, mas a declaração ainda não foi publicada. Fui atrás de pessoas em três continentes para tentar obtê-la, sem sucesso. Depois de conseguirem as manchetes que queriam, os funcionários mais graduados da convenção sumiram, e meus telefonemas não foram respondidos. O governo britânico, que a cobriu de elogios, me disse não ter uma cópia. Nunca vi esta situação antes. Todos os outros acordos internacionais que acompanhei foram publicados assim que foram aprovados."
Monbiot prossegue: "A evidência sugere que eu fui enganado. A minuta do acordo, publicado há um mês, não continha obrigações vinculantes. Nada que ouvi no Japão sugere que isso tenha mudado. O rascunho via as metas que se pedia que os países adotassem, até 2020, como nada mais que 'aspirações de uma conquista em nível global' e 'uma moldura flexível', dentro da qual cada país faz o que desejar. Nenhum governo, se a minuta fosse aprovada, seria obrigado a alterar suas políticas".
"Em 2002, os signatários da convenção concordaram com algo semelhante, uma declaração de tom esplêndido que não impunha compromissos legais. Anunciaram que até 2010 chegariam a 'uma redução significativa da taxa atual de perda da biodiversidade'. Missão cumprida, voltaram todos para casa para felicitarem a si mesmos. No começo deste ano, a ONU admitiu que o acordo de 2002 foi infrutífero.
Supunha-se que a convenção fosse um encontro de cúpula, prossegue Monbiot. No entanto, compareceram cinco chefes de estado, como os do Gabão e Guiné-Bissau, o primeiro ministro do Iêmen ou o príncipe Albert, de Monaco. Um terço dos países representados nem se incomodou de enviar um ministro. É assim que eles valorizam os sistemas vivos do planeta.
"Fico chocado de ver que os governos estão determinados a proteger não as maravilhas de nosso mundo, mas o sistema que as sacrifica - não a vida, mas o lixo efêmero que a está substituindo. Lutam ferozmente, e em seus mais altos escalões, para permitir que florestas virem polpa, e os ecossistemas marinhos, alimentos. E enviam funcionários públicos de nível médio para aprovar uma promessa sem sentido para proteger o mundo natural - em uma promessa até o momento nem escrita".