A ONU lança um grito de alerta: agenda para a Rio+10
Prensa
O Estado de São Paulo, Brasil, 14-8-02
http://www.estado.estadao.com.br/editorias//2002/08/14/ger014.html
A ONU lança um grito de alerta: agenda para a Rio+10
Por Tonica Chagas
NOVA YORK - Quarenta por cento da população mundial já enfrenta escassez de água e 2,2 milhões de pessoas morrem a cada ano por beberem água contaminada; outras 3 milhões são mortas por causa da poluição provocada dentro de suas casas pela queima de lenha ou restos de colheita para cozinhar. A procura de alimentos está aumentando enquanto a produção diminui, e metade dos grandes primatas, os animais mais parecidos com o homem, está à beira da extinção. Com dados alarmantes como esses, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou ontem um relatório ressaltando a necessidade de mais apoio ao desenvolvimento sustentável em todo o mundo, para reduzir a destruição e manter a segurança da Terra e seus habitantes.
Intitulado Desafio Global, Oportunidade Global, o documento - que, na verdade, é uma agenda para a Rio+10 - expõe questões sobre água, saneamento, energia, produtividade agrícola, biodiversidade e saúde, que serão debatidas na conferência de cúpula da ONU sobre desenvolvimento sustentável, em Johannesburgo, entre 26 de agosto e 4 de setembro. A proposta da conferência é traçar um plano de aplicação mundial e formar parcerias entre países. Representantes de mais de cem nações devem participar do encontro.
Ao apresentar o relatório ontem, na sede da ONU, em Nova York, o chefe do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da organização, o indiano Nitin Desai, que será o secretário-geral da Rio +10 na capital sul-africana, observou já haver acordo em cerca de 75% do plano, que vem sendo discutido desde janeiro. A fase mais difícil será enfrentada em Johannesburgo, nas negociações entre países ricos e em desenvolvimento. Embora a conferência não vá produzir nenhum tratado legal, Desai espera "que os governos se comprometam com ações práticas de produção sustentável de energia, agricultura, uso de recursos de água para atender necessidades das populações e erradicação da pobreza".
Menos água - Segundo a agenda, com as reservas subterrâneas de água sendo consumidas muito mais rapidamente do que podem ser repostas, dentro de duas décadas cerca de 3,5 bilhões de pessoas - metade da população do mundo - não terão acesso a água potável. Isso já ocorre com perto de um bilhão de pessoas, principalmente no Norte da África e na Ásia Ocidental. Nessas regiões e também na América do Norte, conforme prevê o documento da ONU, "restam poucas esperanças de aumentar as terras dedicadas à agricultura".
A produção de alimentos tem diminuído e, além de a população mundial não parar de crescer, também estaria comendo mais. Pelos dados do relatório, nos últimos anos, o consumo diário médio por pessoa subiu de 3 mil para 3.400 calorias nos países industrializados e de 2.100 para 2.700 nos países em desenvolvimento.
Mas a fome tende a crescer justamente em lugares onde o solo tem sofrido degradação constante por exploração excessiva e desertificação. Tanto na África como na Ásia, a freqüência e a intensidade das secas aumentaram por causa do efeito estufa, provocado pelo crescimento do consumo de combustíveis fósseis e emissões de carbono.
Além disso, no século 20 o consumo de água aumentou seis vezes, num ritmo duas vezes maior que o do crescimento demográfico. A agricultura é responsável por 70% desse uso e pelo maior índice de desperdício, pois sistemas ineficientes de irrigação perdem 60% da água que transportam.
A desertificação que compromete a produção de comida, é acelerada pelo desmatamento: estima-se que 90 milhões de hectares de florestas - área maior que a Venezuela - foram destruídos nos anos 90. Essa é uma das ameaças mais graves contra a biodiversidade, pois as florestas abrigam dois terços da vida terrestre.
Pobreza - A Conferência de Johannesburgo é uma continuação dos projetos da ONU para, até 2015, reduzir à metade o número de pessoas que vivem na pobreza - o que equivale a viver com um dólar por dia.
Conforme dados do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da organização, essa população baixou de 1,3 bilhão para 1,2 bilhão de pessoas na década de 90, a maioria concentrada no Leste Asiático e na América Latina. Na África, porém, não houve sinal de melhoria. O continente permanece com as maiores taxas de mortalidade, pobreza, fome crônica e de falência dos recursos naturais; na década passada, foram destruídos 7% de suas florestas.
O relatório também registra indícios mais animadores sobre a conservação ou renovação dos meios que a natureza dispõe para manter o ser humano. Reservas naturais, parques e refúgios para animais - base para a indústria do ecoturismo - estão aumentando e representam atualmente 5% do continente europeu e 11% da América do Norte. O uso global de fontes renováveis para a produção de energia cresceu de 3,2%, em 1971, para 4,5% hoje.
Em capitais como Tóquio, Cidade do México, Cingapura e Seul, à medida que o nível de vida aumentou dos anos 70 para os 90, registraram-se reduções consideráveis da poluição. O acesso a água potável e saneamento melhorou gradualmente na última década e, segundo o relatório, foi alcançado o objetivo traçado na conferência mundial sobre infância, em 1990, de se reduzir em 50% a mortalidade de crianças provocada por diarréia: o número de mortes baixou de 3,3 milhões em 1990 para 1,7 milhão, em 1999. "Mas estes avanços estão em risco se não forem tomadas, com urgência, medidas de maior envergadura para inverter as tendências preocupantes que estamos constatando", alertou Desai.
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