Queimadas e desmatamento na Amazônia destroem área 2 vezes maior que o RJ
Dados compilados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que a Amazônia brasileira perdeu 87.762 km² para desmatamento ou queimadas ao longo dos 11 primeiros meses de 2020. A área equivale a duas vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro –que tem 43.696 km². No espaço também caberiam 15 territórios do Distrito Federal.
Os quase 90.000 km² correspondem à soma de áreas destruídas, de janeiro a novembro de 2020, por desmate na Amazônia Legal (11.088 km²) ou por incêndios no bioma amazônico brasileiro (76.674 km²).
O Poder360 usou dados do Prodes, que monitora a Amazônia Legal, e do monitor de queimadas do Inpe, que acompanha essas ocorrências no bioma amazônico, para chegar a esse número. É possível que algumas áreas sinalizadas pelo Prodes como desmatadas também sejam contabilizadas como territórios onde houve queimadas. Não há dados oficiais com os números isolados.
A Amazônia Legal é uma área definida pelo governo federal para facilitar o planejamento de ações na região. São áreas da bacia do rio Amazonas e de vegetações amazônicas. O território engloba 9 Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão. Soma 5.015.068 km² –o que corresponde a 58,9% do território brasileiro. Dessa área, 11.088 km² foram desmatados de janeiro a novembro, segundo o Prodes.
O bioma amazônico representa 49,29% do território brasileiro. Engloba toda a área de Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima e partes do Maranhão (34% do território do Estado), Mato Grosso (54%), Rondônia (98,8%) e Tocantins (9%). O território tem 4.196.943 km², dos quais 76.674 km² foram queimados nos primeiros 11 meses de 2020, de acordo com o Inpe.
Mesmo antes de o ano terminar, a soma dos 2 dados (áreas queimadas e áreas desmatadas) em 2020 já é a maior desde 2017, quando a Amazônia perdeu 98.187 km². Em 2018, foram 50.707 km² afetados. Em 2019, 82.630 km².
A alta em 2020 ocorre num momento em que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, são questionados no STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta omissão na preservação ambiental.
O cientista climatologista Carlos Nobre afirma que o discurso adotado por Bolsonaro desde a campanha de 2018 joga contra a preservação ambiental. “Isso passou uma mensagem muito forte para o setor da ilegalidade do agronegócio, que pode ser muito pequeno, mas o potencial de destruição é gigantesco”, afirmou ao Poder360.
“O crime ambiental, que rouba madeira e coloca fogo, sentiu-se muito empoderado. Eles se sentiram com um perigo pequeno de serem presos se cometerem ilegalidades”, diz Nobre. Isso, para ele, impulsionou o aumento do desmatamento a partir de 2018.
Amostra desse discurso ocorreu em abril deste ano. Numa reunião de Bolsonaro com seus ministros, Ricardo Salles afirmou que deveria ser feito esforço enquanto a cobertura da imprensa estava direcionada para a covid-19 para “ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”.
Nobre avalia que o STF (Supremo Tribunal Federal) segurou a “boiada”. O cientista diz que a fala do ministro expôs as intenções de fragilizar as regulamentações ambientais. “A partir daquilo, o STF se sentiu muito mais empoderado para bloquear [as medidas de Salles que fragilizavam a preservação ambiental]”. Em 30 de novembro, por exemplo, o Supremo suspendeu decisão do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), do qual Salles é presidente, que revogava normas de proteção de áreas de manguezais e de restingas.
Uma das medidas promovidas pelo governo para preservar o meio ambiente foi a operação Verde Brasil. A força-tarefa, composta por Polícia Federal, Ibama, Força Nacional e Forças Armadas, foi criada pelo governo por meio de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) Ambiental em 23 de agosto de 2019. Contudo, segundo Nobre, “a eficácia desses soldados é muito questionável”. O cientista avalia que é necessário aumentar a fiscalização para conter o desflorestamento e as queimadas.
DESMATAMENTO
O Prodes monitora, por meio de satélites, o desmatamento por corte raso na Amazônia Legal. De janeiro a novembro 2020, foram desmatados na região 11.088 km². Houve alta de 9,5% ante o ano anterior inteiro (10.129 km² desflorestados). É o maior desmate desde 2008, quando 12.911 km² foram afetados. Os dados de 2020 ainda devem crescer quando forem adicionados os números de dezembro.
O desmatamento é o processo de desaparecimento completo e permanente da cobertura florestal. É, geralmente, resultado da ação humana.
“Todo mundo cobra a fiscalização [do governo], mas nós temos um papel muito importante para fazer“, afirma o cientista Carlos Nobre. Para isso, ele sugere a compra de carnes e madeiras de áreas que não sejam desmatadas, conferindo se a empresa que vende tem certificado que comprove não ter havido o desmate.
QUEIMADAS
Satélites usados pelo Inpe registram a existência de fogo na vegetação. Até novembro de 2020, foram registrados 76.674 km² queimando na Amazônia. É o maior número desde 2017 (82.323 km² incendiados). Apesar disso, o bioma que mais queimou foi o Cerrado, com queimadas em 138.700 km².
Carlos Nobre diz que os satélites monitoram focos de calor que, na maioria das vezes, são provocados por humanos. “É muito raro uma descarga elétrica [resultar em um incêndio florestal]”, explica. Alguns fatores da natureza podem fazer com que o fogo se alastre por mais territórios, como a falta de umidade do ar e a intensidade de ventos.
Comparado com 2019, o Pampa foi o bioma com o maior crescimento na área queimada. Os incêndios florestais no Pantanal chamaram a atenção em 2020. Passaram de 20.453 km² queimados para 40.171 km². Os 2 biomas tiveram o maior crescimento de área incendiada em relação ao ano passado.
Fonte: Poder 360