Brasil: o igual e o diferente
"A idéia é mostrar como em determinados contextos, as empresas insistem em afirmar que os produtos transgênicos são diferentes dos não transgênicos e em outros, se esmeram em assegurar que os dois produtos se equivalem".
Realmente, dizer que algo é igual ou diferente pode depender do contexto. Se eu estiver no Japão ou em Burkina Faso, apesar de meu entusiasmo com as vestimentas locais, qualquer um vai se dar conta que minha aparência é diferente daquela da maioria das pessoas por lá. Alguns, porém, levam essa questão do contexto às últimas consequências...
Há algum tempo, o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Silvio Valle, elaborou um quadro, bastante ilustrativo, revelando como as empresas produtoras de transgênicos se encaixam perfeitamente nesse grupo. A idéia é mostrar como em determinados contextos, as empresas insistem em afirmar que os produtos transgênicos são diferentes dos não transgênicos e em outros, se esmeram em assegurar que os dois produtos se equivalem. Vejamos quatro situações:
1) ao solicitar a patente do produto transgênico, a empresa afirma que ele é diferente do não transgênico;
2) para as autoridades que avaliam os riscos dos produtos, insiste que o transgênico é igual ao não transgênico;
3) ao vender sementes para o agricultor, garante que o produto transgênico é diferente; e
4) ao chegar no mercado, o discurso para o consumidor é que os produtos são iguais.
Apesar disso, parece que os consumidores preferem ostensivamente os não transgênicos e os fabricantes de produtos alimentícios sabem disso. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) analisou 51 produtos com proteina de soja presentes no nosso mercado e concluiu que 37 deles não contém soja geneticamente modificada (transgênica). Para ver a pesquisa completa, visite o site do Idec
Na contramão da pesquisa, estão os projetos de lei que ora tramitam no Congresso Nacional e que querem acabar com a rotulagem dos produtos transgênicos, afirmando que eles são iguais aos não transgênicos e que é difícil separar transgênicos de não transgênicos. Essa última alegação caiu por terra com a pesquisa do Idec que mostrou que quando querem, os fabricantes conseguem fazer essa separação com muita eficiência.
Quanto à primeira alegação, sobre a equivalência dos produtos, fica no ar a pergunta: se eles são iguais, então qual é o problema do consumidor saber que o produto é transgênico? Ou será que é algo similar a minha bata africana e meu lindo turbante em Burkina Faso?
Fuente: O Globo