Brasil: empresas usam métodos da ditadura para desalojar famílias
Famílias atingidas pela barragem Foz do Chapecó são desalojadas e têm casas queimadas. Nos últimos dias os atingidos pela barragem Foz do Chapecó estão vivendo sob o medo e a ameaça de terem suas casas queimadas e suas terras desapropriadas sem qualquer indenização
As famílias estão indignadas com a forma autoritária e repressora que as empresas e a polícia estão atuando na região. Nesta manhã (14) cerca de 100 policiais cercaram a casa de uma moradora de 64 anos para que ela imediatamente deixasse o local, caso contrário ateariam fogo em seus pertences. Segunda ela, a empresa sequer conversou sobre a indenização e a ação de depositar em juízo o valor de suas terras barra qualquer comunicação entre as partes.
O caso aconteceu na comunidade de Volta Grande, município de Alpestre/RS, área onde está prevista a instalação do canteiro de obras. Nesta mesma comunidade, há 19 meses os atingidos estão acampados e se mobilizando contra a construção da barragem e a forma de atuação das empresas.
Segundo lideranças do Movimento dos Atingidos por Barragens, a ação de desapropriação da moradora é um dos passos para desmobilização do acampamento e início da construção: “Atear fogo nos bens das pessoas é uma tática usada nos tempos da ditadura para reprimir a ação popular”, afirmam.
A UHE Foz do Chapecó é de propriedade das empresas Camargo Correa, Votorantim, Banco Bradesco e de Furnas, e como já aconteceu em outras barragens, também acontece nesta região do sul do país. “Estão criando um clima de medo nas famílias, fazendo despejos e ameaçando os trabalhadores com desapropriações, negam os direitos de quem mora a décadas no local e dependem da terra para sobreviver. Se isso continuar, teremos mais de 10 mil pessoas sem trabalho na região, agravando ainda mais o problema do desemprego”, dizem as lideranças.
Segundo o MAB, os despejos já começaram e as casas dos trabalhadores rurais foram queimadas para dar lugar à barragem. Na comunidade de Saltinho do Uruguai, município de Águas do Chapecó/SC, também área onde está prevista a instalação do canteiro de obras, as empresas querem derrubar a única igreja local, patrimônio religioso e cultural da comunidade. Em repúdio a esta ação, os moradores montaram um acampamento dentro da Igreja e permanecerão no local até a empresa assuma formas de negociação diferentes das que estão sendo feitas até agora.
Assembléia reforça a manutenção da luta
Mais de 500 pessoas atingidas estiveram reunidas em assembléia ontem, dia 13, na comunidade do Saltinho do Uruguai. Eles decidiram manter-se em vigília no canteiro de obras até que os moradores tenham garantias de que não perderão suas terras. Outra definição da assembléia é o agendamento de uma reunião com o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, para tratar sobre o assunto, os contatos iniciaram ainda ontem e a data prevista é para o próximo dia 21, em Brasília.
Para os moradores não existe outra saída a não ser lutar pelos seus direitos, há um consenso que deve haver uma intervenção do governo federal na questão. “Nossa avaliação é de que essas empresas que estão aqui querendo construir esta barragem não têm responsabilidade social nem ambiental, o interesse delas é o lucro e para garantir o lucro não importa deixar famílias sem casa, sem terra, sem trabalho, a destruição das comunidades além da destruição do rio Uruguai e do meio ambiente. Não daremos nenhum passo atrás”, finalizam as lideranças.
Fonte: MAB, 14-12-06