‘Política ambiental de Bolsonaro acelera fim da humanidade’, diz Carlos Minc
No "Entre Vistas," desta quinta (12), às 22h, ex-ministro do Meio Ambiente fala sobre militarização dos órgãos ambientais, perseguição a ONGs e estímulo ao desmatamento feito.
A política ambiental de Jair Bolsonaro não é só um risco para o Brasil, mas também para a humanidade. O estimulo ao desmatamento e a omissão no combate aos incêndios na Amazônia podem causar danos irrecuperáveis. Em apenas oito meses, são inúmeros os retrocessos na área, desde a perseguição às ONGs, passando pela militarização das entidades científicas e chegando até a ampla liberação de agrotóxicos.
Responsável pela criação do Fundo Amazônia, o ex-ministro do Meio Ambiente e atual deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ) lamenta que o governo, “com uma visão da idade média”, coloque o desenvolvimento econômico do país como inimigo da política ambiental. Sua participação no programa Entre Vistas, da TVT, vai ao ar nesta quinta-feira (12), às 22h.
Ministro do Meio Ambiente entre maio de 2008 e março de 2010, Minc lembra que no período o governo Lula reduziu pela metade o desmatamento na Amazônia e o Brasil bateu a meta de redução na emissão de carbono. “Como reduzimos? A gente fazia operações com o Ibama, Polícia Federal e o Exército, capturávamos as cabeças de gado e doávamos para o programa Fome Zero. Além disso, só comprávamos madeira licenciada. Agora, vemos o estimulo ao desmatamento”.
A conversa ainda contou com Iara Bento, assessora parlamentar na Alesp e especializada em gestão ambiental, e a jornalista Lu Sudré, do Brasil de Fato. Carlos Minc diz que será difícil reverter os desastres ambientais promovidos pelo novo governo, pois as ações são rápidas e desastrosas. “Tiraram todo o poder do Ibama e do ICMBio, ataram as mãos da fiscalização, destruíram o Fundo Amazônia e estimularam os pecuaristas adentrem nas florestas. O governo ligou a motosserra, ascendeu o pavio do molotov e, depois, apontam o dedo para os ambientalistas. É cruel”, critica.
O ex-ministro ainda compara o momento atual com a Carta do Chefe Seattle – escrita no século 19, quando o presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, fez a uma tribo indígena a proposta de comprar grande parte das suas terras, oferecendo, em contrapartida, a concessão de uma outra “reserva”.
“É uma egotrip poderosa, onde não há limites e se atropelam todas as regras existentes. O Trump é uma ameaça à paz, ao livre comércio e ao clima do planeta. Já o Bolsonaro tem se mostrado um discípulo aplicado. O que ele fez na Amazônia, no sentido de destruir a biodiversidade e a emissão de carbono, ainda consegue deixar seu mestre para trás”, lamentou o parlamentar.
Para Bolsonaro, o Fundo Amazônia é uma forma de governos estrangeiros intervirem na política brasileira. Entretanto, durante os anos de existência do programa, nenhum pitaco externo foi dado. Minc cita, por exemplo, uma conversa com um ministro da Noruega para mostrar a verdadeira preocupação sobre a floresta amazônica. “A Noruega é um pequeno país que vai submergir, quando a Groenlândia derreter. Quando o ministro da Noruega veio assinar o contrato, ele disse para nós: ‘Isso não é um ato de bondade, é um seguro de vida'”, relata, ao também lembrar que, em dez anos do fundo, foram 190 projetos e 80 mil empregos sustentáveis.
O ex-ministro lembra que o atual governo está militarizando os órgãos ambientais e cita ICMBio como exemplo. Em abril deste ano, a direção do instituto, que contava com biólogos e especialistas reconhecidos, foi substituída por policiais militares. “Chamam até de IPMBio“, conta Minc.
O governo Lula
A lógica do governo Bolsonaro é desenvolver as indústrias da região amazônica, desde a mineração, “monetizando” a floresta. Por outro lado, durante o governo do ex-presidente Lula, o desmatamento caiu e a economia cresceu, lembra o ex-ministro. “Agora, que estão acabando com a Amazônia, tem 12 milhões de desempregados. A lógica de dizer que, quem defende a floresta, prejudica o desenvolvimento é uma falácia.”
Ao longo de sua gestão na pasta, Minc lembra que recebia semanalmente entidades como o Instituto Socioambiental (ISA) e a SOS Mata Atlântica. Segundo ele, os debates não significavam que as ONGs estavam cooptadas, muito menos que todas as demandas eram atendidas. O diálogo estabelecido na época foi abandonado por Salles e seus assessores.
Fonte: Rede Brasil Atual