Os senhores da biomassa lutam para controlar a economia verde
"Alguns governos, corporações, capitalistas de risco e ONGs estão promovendo as tecnologias – incluindo engenharia genética, biologia sintética e nanotecnologia – que tornam (ou tornarão) possível transformar biomassa em produtos comerciais. A busca para assegurar biomassa para matérias-primas está criando novas configurações do poder corporativo."
Introdução: tornando-se verde, da Rio 1992 à Rio 2012
Por volta da passagem do milênio, a visão de um futuro pós-petróleo ambientalmente amigável começou a tomar forma. A produção industrial dependeria de matérias primas biológicas transformadas através de plataformas de bioengenharia de alta tecnologia: a obtenção e conversão de matéria viva (ou recentemente-viva), referida como biomassa – cultivos alimentares e de fibras, gramíneas, resíduos florestais, óleos de plantas, algas, etc. – em químicos, plásticos, fármacos e energia. Essa nascente economia de base biológica rapidamente adquiriu um tom de ‘verde’ e prometeu resolver o problema do Pico do Petróleo, deter a mudança climática e inaugurar uma era de desenvolvimento sustentável. Mais recentemente, na preparação para a Cúpula da Terra de junho de 2012 (Rio+20), a noção de uma “grande transformação tecnológica verde” possibilitando uma “economia verde” está sendo amplamente – embora não universalmente – aceita.
Alguns governos, corporações, capitalistas de risco e ONGs também estão promovendo as tecnologias – incluindo engenharia genética, biologia sintética e nanotecnologia – que tornam (ou tornarão) possível transformar biomassa em produtos comerciais. A busca para assegurar biomassa para matérias-primas está criando novas configurações do poder corporativo. Os principais atores em todos os setores da economia já estão envolvidos: as grandes da energia (Exxon, BP, Chevron, Shell, Total), junto com as forças armadas dos EUA; as grandes farmacêuticas (Roche, Merck); as grandes dos alimentos e agricultura (Unilever, Cargill, DuPont, Monsanto, Bunge, Procter & Gamble); e as grandes da química (Dow, BASF).
A pressão por uma economia de base biológica vem com um apelo por mecanismos de mercado para a financeirização dos processos naturais da Terra, renomeados como ‘serviços ambientais’ (os ciclos do carbono, de nutrientes do solo e da água, por exemplo), os quais também encorajam a tomada de terras e de água. As companhias não estão mais focadas estritamente no controle de material genético encontrado em sementes, plantas, animais, micróbios e humanos; elas ampliaram seu escopo para incluir a capacidade reprodutiva do planeta inteiro. A Cúpula da Terra de 1992 produziu um ‘Livro de Promessas’, chamado Agenda 21, que incluía o combate à desertificação, a proteção de florestas, o enfrentamento da mudança climática e o comprometimento do Norte em transferir tecnologias sustentáveis para o Sul. Além disso, o Sul concordou com uma Convenção de Biodiversidade para deter a perda de espécies e a destruição de ecossistemas. Como parte desse último e mais celebrado acordo, entretanto, os líderes da Cúpula concordaram que os governos teriam soberania sobre toda a biodiversidade dentro de suas fronteiras na época da ratificação do tratado.
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