Governo desqualifica pesquisa sobre agrotóxicos. “Estamos no obscurantismo”, diz Larissa Bombardi
Depois de pesquisa do Instituto Butantã revelar que não existe dosagem segura para os agrotóxicosmais utilizados no Brasil, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) já começou a desqualificar o estudo. O detalhe é que a pesquisa foi encomendada pela própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que analisou os efeitos em peixes dos 10 agrotóxicos mais usados no país, entre os quais o glifosato, o mais vendido. Os resultados indicam que os peixes morreram em 24 horas ou apresentaram diversos tipos de má formação, mesmo quando submetidos a doses mínimas.
Membros da Anvisa e do Ministério da Agricultura põe em dúvida estudo que mostra não haver dose segura para os 10 agrotóxicos mais usado no país.
Segundo Larissa Mies Bombardi, professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) e autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, o resultado de exames feitos a partir de amostras em peixes é significativo, pois eles têm 60% da composição genética igual à dos seres humanos. “Não existe protocolo internacional para uso e resíduo de agrotóxicos. E no entanto as pesquisas são atacadas. Estamos num momento de exceção, obscurantismo mesmo, em que a gente nega o conhecimento e a produção científica nacional”, critica a pesquisadora.
Além do glifosato, foi investigado o agrotóxico malationa. Ambos são classificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 2015, como potencialmente cancerígenos. O agrotóxico piriproxifen foi outro analisado. A professora da USP explica que o malationa e o piriproxifen são usados em campanhas de combate a dengue, zika e chikungunya. “Estamos falando de uma exposição que acontece no campo, na produção agrícola, mas que também acontece na cidade.” O resultado tem sido a exposição crônica da população brasileira a esses agrotóxicos.
Larissa enfatiza que a última análise da Anvisa sobre resíduos de agrotóxicos nos alimentos, realizada em 2015, nem sequer incluiu o glifosato entre os componentes investigados. “A gente não tem noção da presença desse resíduo nos alimentos ou não. Então é grave. A pesquisa é importante porque mostra, de forma inequívoca, os riscos ao qual nós estamos potencialmente submetidos.”
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Fuente: Rede Brasil Atual - RBA