Cuidado com as sementes, por Ademar Bogo
Tudo o que existe no mundo
Desde o animal até a gente
Não poderia ter nascido
Se não fosse uma semente.
Ela é que origina tudo
Faz a vida continuar
Por isso é que é preciso
Da boa semente cuidar.
Desde os tempos mais antigos
Que se conhece a cultura
A semente que alimenta
Inventou a agricultura.
Assim o povo viveu
Fazendo o plantio na terra
E pra garantir a espécie
Muita gente até fez guerra.
A semente e o fogo
Eram duas preciosidades
Quem controlasse as duas coisas
Tinha superioridade.
Hoje as coisas não mudaram
Muito pra diferenciar
Quem controla estas duas coisas
Tem o poder de mandar.
Vejam se não é verdade
Com tanto conhecimento
Tem gente que está querendo
Mudar a semente por dentro.
O petróleo virou fogo
Incendiando o mundo inteiro
Se continuar assim
O mundo vira o braseiro.
Com tanta modernidade
Deram então de inventar
Veneno de todo tipo
Para nas roça jogar.
Matando tudo o que é inseto
Sem ter preocupação
Como se o homem quisesse
Combater a criação.
Atacam de dia e de noite
Todas as espécies de vida
Até a água dos riachos
Está sendo poluída.
Não dá sequer pra beber
Chega até dar calafrios
Porque tem gente falando
Que vão prizatizar os rios!
Se a água for vendida
Pras empresas do exterior
Nós vamos morrer de sede
Pertinho do bebedor.
Até os animais do mato
Com sua experiência imensa
Para poder beber água
Vão ter que pedir licença.
Mas o pior disto tudo
Ocorrerá na semente
Dizem que vão botar nelas
Alguns pedaços da gente.
Já imaginaram se o homem
No milho a fala botar
E quando ele for pra roça
Ouvir a plantação xingar!
Isto já está acontecendo
Não é brincadeira não
Dizem que já tem arroz
Com gosto de camarão.
É tanta coisa absurda
Que tudo vai ser mudado
Daqui a pouco o feijão
Já é colhido temperado!
Estas invenções faladas
Que ferem crentes e ateus
É que as empresas malvadas
Deram pra brincar de Deus.
Vão misturar as espécies
Numa salada total
Daqui a pouco não se sabe
Se é animal ou vegetal!
E se fizerem ás pessoas
Com pedaços de animais
Já imaginaram que encrenca
Vão enfrentar os casais?
De noite no quarto escuro
Se a mulher ouvir um latido
E olhar debaixo da cama
O cachorro de seu marido.
Vai ter coração de boi
Batendo em peito de gente
Veias de bodes nas pernas
Pra ficar mais resistente.
Agora, o que preocupa
Se neste ritual louco
Junto com o órgão for
Também o espírito do porco.
Se começar a nascer cifres
Vai ser um gesto polêmico
Ninguém sabe se é traição
Ou se é um produto transgênico!
De qualquer forma é um perigo
Essas mudanças atoa
Porque não usam a ciência
Para fazer coisas boas?
Isto tudo é muito sério
Pra não dizer comovente
Porque vão botar veneno
No miolo da semente.
Ela germina drogada
Que é pra ser mais resistente
Crescerá contaminada
Esta planta diferente.
E quando chegar a colheita
Será a vez de ir pro mercado
Vender a droga produzida
Pra alguém especializado.
Pois mudará a cultura
Não terá mais comerciante
Porque quem droga circula
Só pode ser traficante!
E o lugar de comprar drogas
Não será tão diferente
Vão continuar expostas
Nas bancas do Shopping Center.
Isto é o que irá acontecer
Neste país brasileiro
Simplesmente por deixar
Entrar o invasor estrangeiro.
As empresas vão tomar
Do povo o conhecimento
Vão querer ganhar dinheiro
Sem nenhum constrangimento.
Só irão querer produzir
Com hábito interesseiro
Aquilo que lhes servir
Pra poder ganhar dinheiro.
Mas quem manteve até aqui
As sementes preservadas
Foram os que produziram
Sem venenos e com enxadas.
Por isso é que se deve
Reforçar esta amizade
E declarar a sementes
Direito da humanidade.
É uma luta muita grande
Que tem que levar a sério
Para que a agricultura
Não vire num cemitério.
Onde a vida vai embora
E só fica no lugar
Um lajedo seco e duro
Que nada dá pra plantar.
Portanto agricultores
Preservemos esta fatia
Porque quem perde a semente
Perde a soberania.
Se da semente vem tudo
Devemos ficar contentes
Porque seremos o escudo
Para os nossos descendentes.
Alertar os governantes
E todos os trabalhadores
E dizer que carecemos
De sementes de valores.
Se nossos antepassados
Nos legaram esta riqueza
Não deixemos as empresas
Emporcalharem a natureza.