Casa de Sementes valoriza o saber quilombola para restaurar a Mata Atlântica

Idioma Portugués
País Brasil

Nova estrutura construída em taipa de pilão com cascalho do rio Ribeira do Iguape homenageia Jucão, liderança histórica do Quilombo Nhunguara, no Vale do Ribeira (SP).

Participantes da inauguração saíram com pequenas muvucas

A Rede de Sementes do Vale do Ribeira agora tem uma casa para chamar de sua. O movimento, que reúne 42 coletoras e coletores de sementes de quatro quilombos, inaugurou no dia 15 de dezembro de 2021 a Casa de Sementes Jucão, no Quilombo Nhunguara, município de Eldorado (SP).

A estrutura, construída em taipa de pilão com cascalho com rio Ribeira do Iguape, fica no alto de uma colina do quilombo, e tem capacidade para armazenar toneladas de sementes florestais, que serão utilizadas em plantios para restaurar a Mata Atlântica. As paredes, com 40 centímetros de espessura, ajudam a regular umidade e temperatura.

O nome da Casa de Sementes homenageia José Rodrigues de Almeida, o Jucão, liderança histórica do Quilombo Nhunguara, sempre presente nas lutas pelo reconhecimento de seu território e pela saúde das comunidades quilombolas. Jucão era um agricultor de mão cheia, disposto a batalhar pelas roças tradicionais. Ele morreu em novembro de 2021 aos 65 anos.

“É mais do que justo homenagear meu primo, Jucão, uma pessoa que sempre quis o bem comum”, disse o coletor João Catá, também do Quilombo Nhunguara. “Por isso, peço para os jovens: vamos preservar a floresta. Num momento como esse é que a gente vê como esse trabalho é importante”.

João Catá, coletor do Quilombo Nhunguara

Assista ao vídeo que conta essa história:

A cerimônia de inauguração contou com representantes dos quatro quilombos que fazem parte da Rede de Sementes do Vale do Ribeira – André Lopes, Maria Rosa, Nhunguara e Bombas. Hoje, os quilombolas coletam 150 espécies, e em 2021 coletaram 1,4 tonelada de sementes, o que vai resultar no plantio de mais de 40 hectares de novas florestas.

Casa foi construída com cascalho do rio Ribeira do Iguape

“Esse trabalho vem dando certo, vem dando resultado para o pessoal que está coletando as sementes. É uma renda a mais para a comunidade”, afirmou Adair Soares da Mota, do Quilombo Nhunguara.

Durante o evento, quilombolas e parceiros presentes foram convidados a depositar um pouco das sementes coletadas no centro de uma roda, que aos poucos se transformou em uma grande mistura de sementes – ou muvuca – que será utilizada para o plantio de uma nova floresta. Aos poucos, o chão se transformou em uma explosão de cores.

“Depois de uma caminhada de quatro anos, vim para cá confiante de que estamos no caminho certo. A casa é de toda a Rede de Sementes do Vale do Ribeira”, disse a coletora Maria Tereza Vieira, do Quilombo Nhunguara.

Para Alain Briatte Mantchev, da Laboraterra Arquitetura, responsável pelo projeto, a Casa de Sementes Jucão é “uma construção coletiva de suor e energia”. “Uma casa dessas, construída com terra, agora vai guardar a semente que vai semear a terra”, celebrou.

“A relação entre homem e natureza vai se potencializando com a coleta de sementes e dando visibilidade para as comunidades”, afirmou Rodrigo Marinho, da Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras (Eaacone). “É importante porque dá visibilidade, amplia a renda e fortalece ainda mais a nossa identidade”.

Fuente:  Em Pratos Limpos

Temas: Semillas

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