Biodiversidade, sustento e culturas #123

A foto nos mostra as mãos cheias de frutas. Frutas que são sementes que se tornarão novos frutos. 

E isso nos coloca frente a frente com sementes e frutos que são sementes. E são frutas camponesas, não do agronegócio. Como Camila Montecinos bem diz em sua apresentação na Universidad Andina Simón Bolívar em Quito, “absolutamente todos os cultivos do mundo, sem qualquer exceção, são obra camponesa e indígena, que começou com a domesticação” – aquele processo de sermos amigos dos cultivos para torná-los nossos e nos tornarmos deles.

Biodiversidade, sustento e culturas continua então a conversa sobre o que significa uma soberania alimentar. Tal soberania implica batalhas simultâneas. Produzir sua própria comida não é suficiente. Precisamos determinar em que condições produzimos esses alimentos, começando pelas sementes, ou como essa soberania também implica a autogestão milenar de coletar, ou pescar e caçar.

Insistiremos em distinguir entre segurança e soberania alimentar, com a pergunta de Leonardo Melgarejo: são um direito a ser conquistado ou uma construção a ser realizada?

Os Povos das Águas, dos Campos e das Florestas que tomam a palavra nesta revista reivindicam desde já a integralidade necessária para exercer soluções criativas e assim resolver o que mais lhes importa. A busca de uma plenitude na própria pessoa plural, coletiva, comunitária. A soberania alimentar é, então, um retorno àquilo que sim nos responde e tem nos respondido desde a profundidade dos tempos: relações de proximidade que nos permitem ser comunidades sem pedir permissão a ninguém para serem autônomas.

Precisamos da força da história própria para transformar a nossa condição e, ao resgatar essa história, “não devemos esquecer a nossa relação com as sementes”, como já disse Camila Montecinos. 

A guerra contra a subsistência travada por patrões locais, corporações, governos e organismos multilaterais está monopolizando territórios inteiros que mais tarde serão usados para fins imobiliários, de mineração ou do agronegócio. A devastação não os perturba porque eles não consideram a terra como sua. Só entende a terra como sua, ou como sermos nós parte dela, quem semeou ou semeia, quem cuida dos fios desse tecido de momentos, de memórias que vão criando o nosso cuidado mútuo com os cultivos e os lugares.

Por isso, são fundamentais as feiras, os encontros, as trocas de saberes e histórias, como dizem em Porto Alegre... que histórias de vida habitam o seu prato?

Nossa revista se soma às reivindicações dos povos por uma reforma agrária integral para que as transformações que a autonomia representa sejam realmente integrais, sem restrições ou regulamentações que restrinjam ou limitem o que o povo sabe desde sempre cuidar. Resolver nossa alimentação sem depender ou obedecer a ninguém é uma conquista enorme. Essa conquista é a autonomia, cujo primeiro passo é a soberania alimentar.

A traduçã o para português foi realizada pelo Centro Ecológico.

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