Sementes do mal
Os produtos transgênicos e o jogo de poder envolvido na liberação dos mesmos. Essa e outras questões sobre transgênicos podem ser encontradas no livro Transgênicos: As sementes do mal – A silenciosa contaminação dos solos e dos alimentos
A obra recém-lançada pela editora Expressão Popular, discute os males que os transgênicos podem causar ao ser humano e ao meio ambiente, além de abordar os trâmites relacionados com a aprovação destes mesmos produtos na Europa e no Brasil.
Para falar mais sobre a obra, a Radioagência NP entrevistou um dos autores do livro, o doutor e integrante do Instituto de Sociologia da universidade austríaca de Johannes-Klepler de Linz, Antonio Andrioli.
Radioagência NP: Como acontece a contaminação de transgênicos em plantações não transgênicas de espécies como a soja, milho e colza?
Antonio Andrioli: A soja é uma planta autogâmica. Ela mesma se poliniza e não há cruzamento, pois esse é fechado e se dá dentro da própria planta e há uma probabilidade de cruzamento para uma outra espécie de soja, em torno de um por cento apenas. Já o milho e a colza são diferentes, pois elas são plantas de polinização cruzada, então vai haver um cruzamento e você acaba tendo um alto índice de contaminação. Outro fator é que nós também sabemos claramente que no Brasil, não temos uma separação da soja transgênica e não transgênica nos armazém, isso causa altos índices de contaminação.
RNP: Fale sobre a Europa. Existe uma influência das empresas nas decisões sobre a aprovação ou não de elementos transgênicos?
AA: Com certeza. Hoje existe um lobby das grandes empresas nas decisões políticas tomadas pela União Européia. Estas mesmas decisões estão cada vez mais distantes da população. Sabemos que nesses países também há um grande interesse das indústrias químicas que também aqui estão. Por exemplo, nós temos a Syngenta na Suíça, temos a Bayer e a Baff na Alemanha que também fazem pesquisa transgênica, não é somente a Monsanto, e que acabam repercutindo sobre os governos o argumento de que estão indústrias poderiam gerar crescimento econômico e emprego.
RNP: Aqui no Brasil existe a polêmica sobre a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) ser uma comissão técnica formada por pessoas que não são especialistas no assunto, mas que mesmo assim decidem sobre a aprovação de transgênicos. Fale um pouco sobre isso também.
AA: Bom, em primeiro lugar já um escândalo nós termos uma comissão decidindo sobre questões que interessam a toda sociedade e, portanto, isso é uma decisão política. Todo esse debate de que a aprovação de transgênicos seja uma discussão técnica é sem sentido porque todas as decisões tomadas até agora foram políticas. O primeiro absurdo é esse fato de você ter essa comissão que se auto-intitula como apenas técnica e não tem nenhum critério técnico para aprovação ou não dos transgênicos até o momento.
RNP: Mas quais são os critérios técnicos exigidos?
AA: O critério técnico que existe e que é previsto na Constituição Federal, é que se faça primeiro um estudo de impacto ambiental. Isso não vem sendo exigido, portanto, é inconstitucional o que foi feito até agora. Tanto que houve casos de juízes que suspenderam as decisões da CTNBio a respeito das liberações e há toda uma discussão judicial que permanece. O segundo aspecto é que não existe nenhuma representatividade da sociedade civil nessa comissão, fato que faz dela antidemocrática. Ela não representa os interesses da maioria da população brasileira e nem os interesses da maior parte do parlamento do governo. Nós temos uma comissão que está isolada e com poder acima dos demais órgãos de poder no Brasil.
RNP: Qual a razão então disso tudo?
AA: Um outro elemento interessante é que, apesar dos integrantes afirmarem que eles são técnicos e que os técnicos é que deveriam decidir sobre essa questão, a maioria dos membros que estão na CTNBio não têm nenhuma competência técnica em biossegurança. Eles são apenas propagandeadores da biotecnologia. A maioria deles inclusive tem interesses diretos na aprovação dos transgênicos porque estão pesquisando nessa área. Isso é um escândalo político muito grande e se nós analisarmos qual a razão para essa velocidade toda na aprovação, nós veremos que na verdade esses membros não querem o conhecimento científico.