Potências disputam recursos naturais
O integrante do grupo africano no Fórum Social MundialTaoufik Ben Abdallah alertou nesta quinta-feira para a disputa por recursos naturais entre grandes potências e para maior fragilidade do seu continente nesta área. Para Abdallah, a região precisa assegurar novo papel na divisão internacional do trabalho, abandonando a posição de mero vendedor de matérias-primas oriundas do meio ambiente para ter acesso à tecnologia e ao conhecimento.
A reportagem é do Jornal do Comércio, 29-01-2010.
A mudança, condicionou o representante da ONG Enda, do Senegal, dependerá de novos mecanismos multilaterais que permitam maior participação da região em acordos entre países.
Abdallah, que foi uma das atrações do painel sobre novo ordenamento mundial, sinalizou que há nova composição do capitalismo mundial. A formatação teria mudado com a ascensão das economias chinesa e indiana e também de outros emergentes como o Brasil. O coordenador da Enda analisa que a nova cara do sistema capitalista sepultou a hegemonia dos Estados Unidos e da Europa. "Há nova configuração da concentração do saber, que não está mais apenas nos EUA e na Europa", ilustrou o representante do Senegal, que será sede em 2011 do próximo Fórum Social Mundial. Mas também citou que houve fracasso do G-20, que reúne os 20 países mais ricos, para regular os mercados financeiros no pós-crise.
Neste ambiente, Abdallah aponta a corrida para assegurar recursos naturais, que é protagonizada por europeus, asiáticos e americanos. "A África é símbolo das reservas", adverte o coordenador da ONG. Enquanto há melhoria e avanço no poder de renda de classes sociais, exemplificando o caso brasileiro, o painelista avalia que há aprofundamento da pobreza e crescimento de comunidades de excluídas em diversos países. Para alterar este quadro, o integrante do grupo africano do FSM incentivou maior articulação de movimentos sociais e pulverização de propostas sobre justiça, interação entre os povos, redução de conflitos e reversão de danos à ecologia.
O belga Eric Toussaint lembrou também que mesmo países como o Brasil têm empresas transacionais que estão gerando reação na atuação em outros países. Caso da Petrobras, que é uma das patrocinadoras do 10º FSM, em Porto Alegre, e que provoca protestos na Bolívia e em outros países da região devido a projetos de exploração de petróleo. A presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, defendeu que o novo ordenamento mundial continua sob hegemonia dos Estados Unidos e criticou a presença militar em muitos países, principalmente na América Latina.
Socorro afirmou que as nações em conflito não precisam de armas, mas de alimentos, lembrando do Haiti, com história de golpes e que tenta se reconstruir, principalmente após o terremoto. A presidente do Cebrapaz apontou a mobilização dentro da campanha América Latina e Caribe: uma região de paz, não às bases militares estrangeiras como estratégia para reduzir o problema.