México: ezército Zapatista de Liberación Nacional: o início de uma revolução social

Idioma Portugués
País México

Um pouco da história do movimento zapatista é revisitada neste nosso contato com a Junta de Bom Governo do Caracol de Oventic, em Chiapas

Chiapas é um estado pobre, com uma população de 4.255.790 habitantes, composto por 90% de índios com grande diversidade lingüística de origem maia (chol, tojolabal, tzeltal, tzotzil, mam e lacandón).

Um povo marcado pela exploração e pela opressão de brancos europeus, que resiste para que sua cultura, língua e costumes não sejam extintos pelo fato do governo federal não garantir os direitos constitucionais indígenas.

Chegamos a San Cristobal de Las Casas no dia 21 de outubro, no reduto zapatista localizado no Estado de Chiapas, ao Sul do México. Não tínhamos certeza se conseguiríamos encontrar membros do EZLN que pudessem nos dar uma entrevista. Todo o movimento encontra-se em Alerta Vermelho pelo fato de Oaxaca estar imersa em grande crise e porque o futuro deste estado trará conseqüências a Chiapas. Isto quer dizer que todas as organizações zapatistas estarão fechadas para informações e visitas até segunda ordem dos comandantes. Ainda assim, conseguimos contato com uma Junta de Bom Governo, no Caracol de Oventic, que fica a uma hora e meia de carro de San Cristoban de Las Casas.

Início do EZLN, os MARZ e as Aguacalientes

O nascimento oficial do Exército Zapatista de Liberación Naciol - EZLN, deu-se no dia 17 de novembro de 1983, quando seis insurgentes (cinco homens e uma mulher) instalaram-se na Selva Lacandona (Chiapas) com o objetivo de iniciar um movimento revolucionário. Durante dez anos, o Exército Zapatista organizou-se de forma explosiva: aprendizagem de táticas e estratégias militares, manuseio de armas de fogo, recrutamento de combatentes, formação política.

No ano de 1993, o movimento passou a ser conhecido mundialmente. Às 24 horas do dia 31 de dezembro do mesmo ano, o EZLN ocupou diversas entradas e saídas de cidades e tomou dois grandes quartéis militares do Estado de Chiapas, iniciando uma guerra contra a organização social vigente e pela soberania dos povos indígenas. O ato desencadeou-se sob a desprevenção do Governo Federal que estava preparando a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio da América do Norte.

O surgimento dos Municípios Autônomos Rebeldes Zapatistas – MARZ - deu-se após a tomada de algumas cidades, paralelamente ao processo de independência dos poderes oficiais. Nasceram, assim, novos poderes com diferente forma de organização.

Em 1994, o EZLN teve a tarefa de construir espaços para facilitar o contato político e cultural com a sociedade civil a fim de difundir o ideal zapatista e amplificar o alcance dos futuros trabalhos a serem realizados. Logo de imediato, o Exército Federal avançou sobre as posições zapatistas e tomou a comunidade de Guadalupe Tepeyac, destruindo-a e construindo ali um quartel general.

Em 1996, porém, o EZLN convocou a sociedade civil a fundar novos aguascalientes como forma de resistência e rebeldia popular, iniciando assim a transmissão da responsabilidade pela luta a todos os moradores de Chiapas, delegando-lhes a construção da revolução no país.

Nasceram, assim, 5 aguascalientes: Aguascalientes I (La Realidad), Aguascalientes II (Oventic), Aguascalientes III (La Garrucha), Aguascalientes IV (Morelia) y Aguascalientes V (Roberto Barrios), todos empenhados na organização de iniciativas zapatistas de diversas naturezas, como o Primeiro Intergalático, Fórum Especial para a Reforma do Estado, Fórum Nacional Indígena, Primeiro Encontro Americano contra o Neoliberalismo e pela Humanidade, Encontro Nacional de Comites Civis para o Diálogo Nacional.

Caracóis, Juntas de Bom Governo, a Sexta Declaração e a Outra Campanha

Após profunda reflexão, ao verificar um vácuo entre as aguascalientes e os 27 MARZs e também o distanciamento da ação em relação à sociedade civil mexicana e internacional, o EZLN celebrou nos dias 8, 9 e 10 de agosto de 2003 o nascimento dos primeiros Caracóis e suas Juntas de Bom Governo, em substituição às extintas aguascalientes. Os Caracóis são pequenos estados regionais que agrupam entre dois e sete municípios autônomos cada, com o objetivo de tornarem-se centros civis do movimento zapatista. A competência das Juntas passou a ser implementar programas de produção de comida, saúde, educação, através de deliberações realizadas em assembléias com a participação de toda a população.

Em 28 de junho de 2005, o EZLN tornou pública a Sexta Declaração da Selva Lacandona, que teve por objetivo realizar o levantamento histórico do movimento, apontar suas diretrizes, chamar os trabalhadore do campo e da cidade, os estudantes, professores, crianças, jovens e idosos, todos os mexicanos, desde que fossem de esquerda, anticapitalistas e antineoliberais, para, em conjunto, elaborar uma proposta não eleitoral, levantar os anseios populares e positivar uma nova constituição. Na sexta declaração, há uma forte crítica ao sistema capitalista e suas conseqüências sociais. O movimento estende a necessidade de lutar pelos direitos dos índios a todas as minorias. A partir do dia 1 de janeiro de 2006, o EZLN iniciou a marcha conhecida por Outra Campanha, que percorre os 31 estados do México. Os comandantes encontram-se, hoje, no norte do país, dando continuidade à passagem que foi realizada no sul e centro do México.

A grande diferença do movimento zapatista é a sua organização horizontal, sem hierarquias e uma grande rotatividade nas cadeiras de seu governo. Não há eleições, nem propagandas políticas, apenas escolhas por parte das Assembléias. O poder das mulheres é igual ao dos homens (47% dos que compõe os 100 zapatistas do Comite Clandestino são do sexo feminino. Este comitê é a instância superior do EZLN, no qual se reúnem os comandantes e comandantas). A divisão do trabalho é decidida por todos, e os meios de produção são do coletivo. É um movimento que não luta pelo poder, mas constrói espaços paralelos ao Estado oficial.

Dia 23 de outubro último, o EZLN continuava em Alerta Vermelho, mas suas organizações começavam a ser abertas ao público. Logo que soubemos disso, preparamo-nos para ir, no dia 25, ao Caracol de Oventic para entrevistarmos a Junta de Bom Governo. O resultado desta entrevista pode ser visto no Especial Latinautas ( leia aqui).

Latinautas é o apelido dado pela Carta Maior à equipe da expedição "Da América para as Américas", formada por Milena Costa de Souza, Pedro José Sorroche Vieira, Thiago Costa de Souza e Ligia Cavagnari. Eles atravessarão as américas, passando por 17 países, percorrendo mais de 25 mil km em busca de uma identidade de resistência à hegemonia política, econômica e cultural exercida pelos EUA.

Leia o especial LATINAUTAS, com a íntegra dos relatos e comentários sobre a expedição "Da América para as Américas". ( Leia aqui)

Agência Carta Maior, Internet, 8-11-06

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