Hidrovia ameaça Bacia do Prata

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WWF põe rede fluvial do Cone Sul entre as dez mais vulneráveis do mundo e culpa Brasil, Bolívia e Paraguai

A WWF, uma das maiores organizações de proteção ao meio ambiente, acusa os governos do Brasil, Bolívia e Paraguai de retomar a idéia de uma hidrovia pela Bacia do Prata sem preparar análises de impacto.

Um relatório lançado ontem pelo grupo aponta a Bacia do Prata como uma das dez maiores fontes de água doce no mundo que mais correm riscos ambientais, ao lado dos Rios Yang-TSE (China), Nilo (África), Bravo (ou Rio Grande), na fronteira entre Estados Unidos e México, Ganges, Indo, Mekong e Salween (Ásia), Murray-Darling (Austrália) e Danúbio (Europa). A análise marca o Dia Internacional da Água, que será celebrado depois de amanhã em todo o mundo.

No caso da Bacia do Prata, as hidrelétricas e o transporte fluvial seriam as principais ameaças. O problema, segundo a WWF, pode afetar até mesmo o Pantanal e todo seu ecossistema. Isso porque uma redução de 25 centímetros no nível do Rio Paraguai (um dos principais da bacia, ao lado do Paraná e do Uruguai), decorrente de represamento ou eclusas, poderia gerar uma queda de até 22% na área inundada do Pantanal.

Segundo os ambientalistas, o fenômeno teria efeito devastador, não só na flora e fauna, mas na própria forma de ocupação da região. Um dos grupos mais afetados seriam os indígenas que ainda vivem no Pantanal e dependem da pesca.

Quanto aos projetos de transporte, a principal ameaça são as obras de uma hidrovia entre Cáceres, no Estado de Mato Grosso, e o porto uruguaio de Nueva Palmira. O projeto foi amplamente discutido nos anos 1990, mas agora estaria sendo retomado pelos governos sem uma avaliação suficiente do impacto sobre o meio ambiente.

A WWF alerta que a Bacia do Prata ainda passará por um forte período de construção de barragens. No total, 27 estão sendo planejadas no Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Para a entidade, o número de empreendimentos hidrelétricos é um dos maiores do mundo em uma só bacia.

À ESPERA DE FINANCIAMENTO

Segundo o secretário de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra, a Bacia do Prata é extremamente impactada pela ação humana, mas hoje os países têm instrumentos para “reorientar projetos” e viabilizar desenvolvimento sustentável. “A maior parte do PIB da América do Sul está ali, e todo projeto tem potencial impacto”, diz.

Senra afirma que o Comitê Intergovernamental da Bacia do Prata, formado pelos cinco países alcançados por seus rios, concluiu após dois anos de análise um Programa Marco para a região e aguarda agora aprovação do Fundo Global do Meio Ambiente, criado em 1992.

Caso seja aprovado, o fundo vai doar US$ 15 milhões para o programa. Com as contrapartidas dos cinco governos, as ações de conservação na Bacia do Prata contariam com US$ 60 milhões.

DIREITO FUNDAMENTAL

Um grupo de países quer pedir à ONU que reconheça o acesso à água como direito fundamental. “Há boa vontade em relação ao assunto, mas isso não é suficiente”, disse Abel Mamani, ministro da Água da Bolívia, durante a 1ª Assembléia Mundial dos Representantes e dos Cidadãos pela Água, no Parlamento Europeu.

EFE, Internet, 20-3-07

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