Brasil: soja encalhada
Boa parte da soja produzida na Amazônia pode ficar encalhada
Por pressão dos consumidores e ecologistas europeus, as multinacionais decidiram boicotar os produtores brasileiros que plantam em áreas desmatadas ilegalmente.
O gaúcho Pio Stefanelo chegou ao Pará há 9 anos. Ele e os irmãos se dizem donos de mil hectares, em Santarém.
”Algumas áreas têm documentos, outras não”, afirmou o fazendeiro.
Em busca de terras baratas, fazendeiros de várias regiões do país acabam comprando na Amazônia áreas de floresta que pertencem à União. Os vendedores são grileiros que se associam a donos de cartórios, como por exemplo em um deles, em Altamira, que foi fechado depois de tentar legalizar áreas públicas.
De acordo com o Instituto de Terras do Pará, existem no Estado 412 mil propriedades rurais. Pelo menos 300 mil estão em situação irregular. Falta principalmente documentação.
O município de Moju é um dos campeões em fraudes. ”Eu costumo dizer que no Moju foi titulado o chão, o primeiro andar e metade do céu”, disse Girolamo treccani, professor de direito agrário da UFPa.
Primeiro, vieram os madeireiros, depois, os grileiros e fazendeiros que queimam a floresta para limpar o terreno. De acordo com o INPE, a área desmatada na Amazônia brasileira já passa de 650 mil quilômetros quadrados, uma área maior que os três Estados da região sul.
A soja, principal lavoura da Amazônia, já ocupa mais de 1 milhão de hectares. Mas agora, por causa da pressão dos consumidores europeus, as empresas importadoras decidiram suspender, por dois anos a compra da soja brasileira plantada em áreas desmatadas ilegalmente. Uma multinacional que construiu em Santarém um porto para escoar a produção acredita que é possível atender às exigências.
”Tem perfeitas condições de fazer isso dentro dessas áreas sem precisar desmatar absolutamente mais nada”, disse o gerente comercial Antenor Giovannini.
Ambientalistas são contra o cultivo da soja na Amazônia.
”Vêm aqui com uma visão de garimpeiro, vem pra cá explorar enquanto der esse produto”, afirmou o padre e ambientalista Edilberto Sena.
Na tentativa de conter o desmatamento e a grilagem, a Justiça do Pará bloqueou milhares de registros de imóveis com indícios de fraude. “Se pretende arrumar definitivamente a casa”, disse o presidente do Tribunal de Justiça Milton Nobre. ”Faz com que o latifundiário tenha que provar que o título é legítimo”, disse Felício Pontes, procurador da República no Pará.