Brasil: polícia militar despeja violentamente centenas de famílias em Aracruz

Idioma Portugués
País Brasil

Na quarta-feira (18), a Polícia Militar do Espírito Santo realizou uma ação bárbara e truculenta na desocupação de terra no bairro Nova Esperança, em Barra do Riacho, município de Aracruz

O bairro Nova Esperança, formado a partir da ocupação de uma área no distrito de Barra do Riacho, conta com 330 famílias, sendo 1,6 mil pessoas, dentre elas 550 crianças

A ação violenta contou com um verdadeiro aparato de guerra através do Batalhão de Missões Especiais (BME), do Grupo de Apoio Operacional (GAO) e de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (ROTAM), 400 policiais militares, atiradores de elite, helicóptero, cavalaria, bombas de gás, tiros de borracha, gritos de guerra, tratores, ofensas, humilhações e ameaças. Toda essa brutalidade foi utilizada contra a população desarmada, crianças, mulheres, idosos, deficientes, revelando a extrema covardia, indiferença e incapacidade política do Governo Estadual, Municipal e do comando da Polícia Militar do Espírito Santo.

Moradores foram feridos e nenhum socorro foi prestado. Além de toda a barbárie, o violento cerco causou a morte de Santa da Silva Peçanha, de 48 anos, confirmada pelo Hospital São Camilo, em Aracruz, após sofrer um acidente cerebral vascular (AVC), na noite de 19 de maio, quinta-feira.

Na área de 52 000 m², as famílias haviam erguido casas e realizaram, por conta própria, o levantamento topográfico do local. Dentre as mais de 300 famílias cadastradas pela ONG Amigos da Barra do Riacho, algumas foram despejadas de outras casas por não conseguirem arcar com os alugueis, e outras entregaram os imóveis pelo mesmo motivo. Além da ONG, os assentados também contam com o apoio do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Sindicato Unificado da Orla Portuária (Suport-ES), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dos comerciantes e moradores da Barra do Riacho.

Abaixo, vídeo da operação de guerra da Polícia Militar contra comunidade de Aracruz. Veja aqui.

Abaixo, segue a nota de repudio feito pela Via Campesina - ES sobre o ocorrido:

NOTA DE REPÚDIO DA VIA CAMPESINA ES

A Via Campesina - ES (CPT, MPA, PJR, MST, APTA ) vem, através deste, manifestar nossa indignação e nosso repúdio às violações dos Direitos Humanos na ação truculenta da Prefeitura Municipal de Aracruz contra moradores da ocupação em Barra do Riacho.

Membros da coordenação da Via estiveram lá conversando com as famílias sobre os fatos ocorridos.

Os primeiros sinais da truculência são notados logo na entrada do distrito onde dois núcleos de casas foram reduzidos à montanhas de entulhos.

Relatos das agressões, da violência versaram entre tiros de bala de borracha, bombas de gás e máquinas derrubando suas casas com todos os pertences das famílias dentro, pois não lhes permitiram pegar sequer os seus documentos pessoais. Várias pessoas apresentavam feridas pelo corpo, mas a ferida maior e que encontramos em todas elas estava na autoestima, na alma.

Estiveram presentes na mesma ocasião representantes do Conselho Estadual dos Direitos Humanos do Centro de Defesa dos Direitos Humanos CDDH, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, da Igreja, o Deputado Estadual Genivaldo e a Senadora Ana Rita, ambos representando as Comissões dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e do Senado, respectivamente. A senadora foi categórica em afirmar que está do lado do povo e que irá fazer de tudo para que a justiça seja feita. Eles integraram, junto com mais algumas pessoas, uma comissão para falar com o prefeito, mas não temos informações sobre os resultados desta conversa.

Todas as falas foram unânimes em responsabilizar autoridades do governo do estado pela atrocidade uma vez que ele é o mandatário da Polícia Militar, além, é claro, do prefeito municipal.

A violência também lembrou o episódio da aldeia do olho d’água onde policiais federais investiram com igual truculência nos/as companheiros/as indígenas demonstrando que naquele município, o coronelismo de outrora ainda impera, só que agora travestido de empresários. Foi assim com os companheiros Quilombolas do São Domingos no Sapê do Norte e em outras diversas situações no Espírito Santo.

É preciso um basta neste modus operandi da Polícia Militar, é preciso que seja definido outro formato de intervenção que paute pelo respeito, pela negociação conforme lembrou o presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos afirmando que ele mesmo foi impedido de chegar próximo ao local no momento que a barbárie estava acontecendo. Ele afirmou também que este foi um dos pontos de sua conversa com o Governador.

Nós, da Via Campesina também estamos de luto pela companheira Dona Santa que tombou na luta diante da covardia da polícia militar e essa dívida deverá ser cobrada. A ação deve ser apurada até as últimas conseqüências, se é que o nosso governador saberá honrar a enxurrada de votos que teve, inclusive, daqueles que a sua polícia massacrou naquele lugar.

O mais importante foi perceber que o povo está unido e com vontade de persistir na luta, e conforme lembrou uma das lideranças do movimento, o Valdinei, “mais do que por nós, agora será por Dona Santa” sugerindo que assim que conquistem de volta as suas moradias que a comunidade passe a levar o nome dela. É preciso também que toda sociedade saiba que esta liderança em pleno século XXI está sendo caçada e está sob ameaça em pleno Estado de Direito. Que nada lhe aconteça pois estamos todos/as cientes e solidários.

Fica a pergunta: quantos mais? Que país é este que diz querer acabar com a pobreza?

Continuaremos solidários a toda luta do povo pela dignidade, justiça e liberdade de expressão.

As famílias estão alojadas numa quadra de esporte toda aberta e estamos no inverno. É preciso que sejam recolhidas doações de roupas, lonas, artigos de higiene pessoal e alimentos.

PÁTRIA LIVRE!!

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA - CPT
MOVIMENTO DOS PEQUENOS AGRICULTORES – MPA
PASTORAL DA JUVENTUDE RURAL – PJR
MOVIMENTO DOS SEM TERRA – MST
ASSOCIAÇÃO DE PROGRAMAS EM TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS - APTA

MST-Brasil, Internet, 26-5-11

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