Brasil: o peso da agricultura no clima
Entrevista com David Cassuto, Diretor do Brazil American Institute for Law and Environment da Pace University, em Nova York, Cassuto esteve em Porto Alegre na semana passada para falar sobre o tema Impacto da Agricultura Industrial Sobre as Mudanças Climáticas
A grande preocupação do professor de Direito Ambiental David Cassuto é como alimentar de forma segura e sustentável as bilhões de pessoas que vivem na Terra. Repensar o aparato agrícola, a criação dos animais, a forma como cuidamos do solo e, principalmente, o conceito de eficiência agrícola são algumas das possibilidades levantadas por Cassuto em entrevista ao jornal Zero Hora, 06-09-2010.
Diretor do Brazil American Institute for Law and Environment da Pace University, em Nova York, Cassuto esteve em Porto Alegre na semana passada para falar sobre o tema Impacto da Agricultura Industrial Sobre as Mudanças Climáticas, resultado de uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Consulado Geral dos Estados Unidos da América. Para ele, independente da situação, o primeiro passo é conscientizar.
Eis a entrevista.
Como melhorar a situação da agricultura, para torná-la mais sustentável?
Um bom exemplo é um acordo entre gigantes internacionais, que decidiram voluntariamente não comprar soja de produtores que desmatam a Amazônia brasileira. É possível ter acordos e união de interesses entre setor público, privado e universidades. Muita gente pensa que indústria e ambiente lutam entre si, e não é assim. Não precisa ser assim. É uma questão de compromisso em nível nacional, estadual e municipal, para que os alimentos sejam produzidos de forma sustentável. Há outras formas de incentivar uma produção melhor. A redução de impostos é um exemplo, mas o mais importante é o compromisso.
Teria algum conselho para dar ao Brasil nessa área?
O Brasil e outros países ainda não se deram conta do quão grande é o fator agricultura nas mudanças climáticas. As pessoas em todo o mundo precisam ser avisadas disso para se engajarem na luta para mudar a forma como nos alimentamos.
Qual a urgência de agir para mudar a forma como nos alimentamos?
É uma questão bem urgente. O consumo de alimentos de origem animal vai dobrar até 2050. E hoje a agricultura industrializada já é responsável por 15% a 50% das emissões de gás carbônico na atmosfera. Então, precisamos pensar como será isso com o passar do tempo. Se eu pudesse aconselhar os líderes mundiais sobre alguma coisa, falaria da agricultura. Em negociações internacionais que promovem acordos para reduzir as emissões, a questão da agricultura deveria estar na linha de frente.
É possível apontar um motivo para os problemas da agricultura que temos hoje?
Um dos motivos para a proliferação da agricultura industrializada nos EUA são os subsídios agrícolas. O modelo americano de agricultura industrializada tem se disseminado pelo mundo, mas acredito que é uma coisa que deveríamos nos envergonhar, não exportar. Outra questão é a noção de eficiência da agricultura, que tem se perdido completamente. Pensamos que pagamos barato quando o custo é maior, e isso reflete de forma direta na alimentação. A ideia de que uma coisa é eficiente é ligada apenas ao custo, ao dinheiro. Quando paramos para pensar e vemos que aquela atividade causa sofrimento ou outro tipo de impacto vemos que não é eficiente.
Cresce nos EUA e em outros países casos de obesidade relacionados à má alimentação. Podemos dizer que a má alimentação também está relacionada à agricultura que temos hoje?
Esse é um ponto muito importante. O americano médio come quase 25 quilos de carne a mais hoje do que a 40 anos atrás. Naquela época, já se comia muita carne, e desenvolvemos diversos problemas de saúde ligados a isso. Muitas vezes, também não se usa açúcar para adoçar os alimentos, pois se decide pelo xarope de milho, que é altamente calórico, mas mais barato, pois é subsidiado. Exemplos como esses colaboram para tornar as pessoas obesas. Isso é um problema muito sério e está diretamente ligado à forma como produzimos alimentos. Tudo está interligado. É preciso consciência. A nossa sobrevivência planetária depende da sustentabilidade ambiental, e isso inclui a agricultura sustentável.