"Brasil desmata para ampliar agricultura"
Produtores agrícolas europeus acusam o Brasil de estar desmatando floresta tropical para expandir sua produção agrícola e pedem nova lei que garanta que todos os países tenham o direito de ser auto-suficientes na produção agrícola
A declaração foi feita ontem pelo presidente da Confederação de Cooperativas Agrícolas da Europa, Rudolf Schwarzbock, em evento na Organização Mundial do Comércio (OMC) reunindo setor privado, entidades não-governamentais e diplomatas. Os produtores europeus insistem que a OMC deve incluir regras ambientais e de saúde animal em suas leis.
Usando dados do Greenpeace, a entidade, uma das mais poderosas em toda a Europa, afirmou que em três anos o Brasil destruiu 70 mil km2 de floresta, o que equivale a uma vez e meia o território da Suíça. 'Isso é o que o livre comércio vai gerar se outras preocupações (ambientais) não forem consideradas.' Para ele, o desmatamento seria acelerado caso houvesse liberalização dos mercados.
Declarando abertamente ser contra a abertura dos mercados para a agricultura, Schwarzbock ainda defende a manutenção dos milionários subsídios aos produtores na Europa. 'Se não fizermos isso, uns poucos países vão dominar o comércio agrícola.' Para ele, o Brasil é um desses países que controlaria ainda setores graças a sua competitividade.
Segundo ele, as exportações agrícolas brasileiras dobraram entre 1999 e 2003. O preço do frango no Quênia é cinco vezes superior ao brasileiro, enquanto uma tonelada de açúcar no País custa a metade do valor cobrado na Índia para produzir.
'Nos países pobres e na Europa, a agricultura vai desaparecer para sempre. As conseqüências serão ambientais e sociais e, por isso, precisamos de leis da OMC', afirmou Schwarzbock. Uma de suas idéias é a introdução de salvaguardas para evitar importações todas as vezes que países virem seus interesses vitais ameaçados. Outra proposta é estabelecer padrões mínimos de auto-suficiência na produção agrícola.
A entidade européia garante que 200 milhões de fazendeiros em 54 países em todo o mundo apóiam a idéia. 'Tem que ter o direito a ter a nossa agricultura.
Brasil, Austrália e EUA não são a maioria dos agricultores do planeta', afirmou Schwarzbock. 'A segurança alimentar, do consumidor, do ambiente e a proteção animal não devem ser subordinadas ao principio de livre comércio.'