Brasil: atingidos por barragens continuarão mobilizados rumo a Brasília
Nesta semana, os atingidos por barragens organizados no MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), estiveram acampados em várias regiões do país, como parte da Jornada do Dia Internacional de Luta contra as Barragens. Eles denunciaram a violação dos direitos dos atingidos no processo de implantação de barragens, cobraram a dívida que as empresas e governos têm com esta população e exigiram o cancelamento da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, entre outras barragens projetadas para os rios brasileiros
A maioria dos acampamentos finalizou suas atividades hoje (18), mas os atingidos devem seguir mobilizados e preparando o Encontro Nacional da Juventude, pelos direitos dos atingidos e por um projeto energético popular, previsto para acontecer entre os dias 8 e 12 de abril, em Brasília. “Os atingidos saíram muito animados dos acampamentos e dispostos a construírem a atividade nacional. Lutaremos pelos nossos direitos até que tenhamos condições mais dignas para viver”, declarou José Josivaldo Alves, da coordenação nacional do MAB.
Os dois acampamentos de Minas Gerias, nas áreas das barragens de Fumaça e Aimorés, serão permanentes, já que lá 1900 famílias atingidas ainda não foram reassentadas. As famílias do acampamento de Fumaça estão indignadas com a truculência da polícia na região. Ontem (17), policiais invadiram o acampamento e revistaram todos os barracos e pertences dos acampados, sem mandado de busca e apreensão. Isso aconteceu no momento em que parte dos militantes estavam em uma atividade na cidade de Mariana, onde faziam a denúncia da violação dos direitos humanos sofridas pelos atingidos por barragens no estado.
Em Tocantins, os atingidos pela Usina Hidrelétrica de Estreito, acampados há nove meses próximo ao canteiro de obras da barragem, assim devem permanecer. O MAB acusa o consórcio Ceste, responsável pela obra, por não garantir suporte e compensação à população atingida. “O consórcio é formado pelas empresas Suez, Vale, Alcoa, BHP Billiton Metais e Camargo Corrêa Energia. São todas transnacionais que não se importam com a vida das pessoas, apenas com o lucro que a usina vai gerar, por isso não vamos arredar o pé”, afirmou Cirineu da Rocha, coordenador do MAB.
Conquistas
Como resultado da jornada de lutas, os acampamentos tiveram conquistas como audiências com as empresas construtoras das barragens e cadastramentos das famílias atingidas que ficaram sem terra. Na região sul, o INCRA cadastrou quase mil e quinhentas famílias. Nessa região os números tendem a aumentar, porque o cadastramento do INCRA continuará em todos os municípios atingidos pelas barragens. Lá os agricultores também fortaleceram o debate sobre o Projeto de Recuperação e Desenvolvimento das comunidades e municípios atingidos pelas barragens, no sentido de irem elaborando projetos para produção de alimentos, a serem apresentados ao BNDES, principal financiador das usinas da região.
Em Sobradinho, após a ocupação do escritório da Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF pelos atingidos por barragens do Rio São Francisco, este órgão assumiu o compromisso de receber uma comissão do MAB em audiência no dia 24/3, em Recife, sede da companhia. “A audiência representa a abertura de um canal de negociação, onde serão cobrados o pagamento dos direitos das famílias atingidas pelas barragens de Sobradinho e Itaparica; a suspensão dos projetos de construção das hidrelétricas de Riacho Seco e Pedra Branca; e a paralisação das obras de Transposição do Rio São Francisco”, afirmou Nívea Diógenes, da coordenação do MAB na região.
Já em Rondônia, os atingidos por barragens foram recebidos ontem (17) pelo Consórcio Enersus, formado pelas empresas GDF Suez, Chesf, Eletrosul e Camargo Corrêa. Esta é a primeira vez que o consórcio recebeu os atingidos em audiência desde que chegou na região. “A obra já está avançada e muitas famílias já foram expulsas. Continuaremos mobilizados para garantir nossas conquistas, também queremos que as estatais do setor elétrico assumam sua parte de responsabilidade. Com relação à reunião de ontem com a Enersus, demos um prazo de 10 dias para eles nos apresentarem propostas, caso isso não acontecer, nosso acampamento em Mutum Paraná será permanente”, afirmou Océlio Muniz, da coordenação do MAB no estado.