Argentina: movimentos sociais aprovam retenção das exportações e repudiam paralisação
Hoje (27), a Praça de Maio, em Buenos Aires, é palco de uma manifestação contra a paralisação "do campo". O repúdio à paralisação, na verdade, é porque, de reivindicação popular, ela não tem nada. Segundo as Mães da Praça de Maio, que convocam para o ato, essa é uma "paralisação golpista da oligarquia agropecuária, que são os mesmos que em 1976 promoveram a ditadura cívico-militar"
O Movimento Livres do Sul, em coletiva de imprensa realizada em frente à Sociedade Rural, também convocou para o ato de repúdio à paralisação "antinacional e anti-solidária". O "Livres do Sul" iniciou uma campanha em todo o país para explicar o sentido das retenções e qual a real razão dos interesses dos que se opõem a elas.
Os promotores da paralisação são os empresários do campo, que nos últimos aos têm sido os maiores beneficiados com a alta do dólar, que lhes multiplicou os lucros e quintuplicou o valor da terra. Além disso, para que seus lucros sejam ainda maiores, esses oligarcas aumentam o preço dos alimentos e são responsáveis pelo desabastecimento do país.
Os movimentos sociais argentinos se colocam a favor das retenções às exportações. A Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) a vê como um "mecanismo redistribuidor que captura uma parte dos extraordinários lucros dos setores concentrados do capital agropecuário, representados pela Sociedade Rural, Confederação Rural Argentina (CRA) e grandes grupos investidores".
Para a Central, se as retenções não tivessem sido estabelecidas, o preço da cesta básica familiar teria valores ainda mais altos, tornando-se absolutamente inacessível para a família dos trabalhadores. "É preciso aplicar retenções segmentadas, diferenciando claramente os distintos sujeitos que intervêm no setor", acrescentou a Central.
Em nota, os trabalhadores do campo que integram a organização internacional, Via Campesina, esclareceram que a paralisação é uma reação do capital a uma medida do Governo, mas que não é promovido por eles. "Nenhum dos padecimentos e das reclamações dos trabalhadores rurais estão contemplados no protesto atual", disseram os camponeses.
Para os camponeses, a única saída para essa situação passa por "promover a reforma agrária, a expropriação da propriedade agrária e o seu repasse para os verdadeiros pequenos camponeses desalojados pela soja, necessitados de terra e a serviço do re-povoamento agrário, ou pela exploração pública direta pelos trabalhadores do campo".
O Movimento Camponês de Santiago del Estero - Via Campesina (Mocase-VC) disse que as empresas rurais que promovem a paralisação "reproduzem o modelo de saque e contaminação tanto da terra, dos territórios, como também de sua mentirosa pretensão de representar as lutas mais genuínas dos movimentos camponeses na Argentina".
A Federação Agrária Argentina (FAA) e demais organizações patronais e empresariais do campo forjam uma representação das lutas mais genuínas dos movimentos camponeses no país, quando na realidade reforçam um modelo neoliberal, de saque e contaminação do campo, e reproduzem novas formas de colonização e genocídio. Nesse sentido, o Mocase lembra que os membros da FAA não produzem alimentos em benefício do povo, e sim para a especulação do mercado internacional.