Plantas de uso medicinal ameaçadas


Prensa
Jornal do Commercio, Recife, Brasil, 17-9-2000

BOTÂNICA
Plantas de uso medicinal ameaçadas
por Verônica Falcão
Cinco espécies de árvores do Semi-Árido estão ameaçadas pelo uso de suas cascas como remédio caseiro. O alerta é do botânico Ulysses Paulino de Albuquerque, que realiza pesquisa sobre o assunto com financiamento do WWF, sigla em inglês para Fundo Mundial para a Vida Silvestre. Segundo ele, a aroeira-do-sertão, baraúna, quixaba, imburana e angico correm risco de extinção porque a forma como pedaços da casca são retirados pode levar a planta à morte.

O pesquisador cita uma doença conhecida como mal de Malpghi. O problema ocorre quando a retirada das cascas contorna o caule, fazendo uma espécie de anel na árvore. "Isso pode impedir que a seiva elaborada desça até as raízes", justifica. A seiva elaborada, explica ele, é produzida nas folhas por meio da fotossíntese e distribuída para toda a planta. "Já a seiva bruta é composta por água e sais minerais, sendo levada das raízes para as folhas".

Na avaliação do pesquisador, essas são as cinco espécies mais exploradas como plantas medicinais no Semi-Árido. Ele estima, no entanto, que as populações locais dessa região utilizem 200 espécies vegetais, de ervas a árvores de grande porte, principalmente para fins medicinais. Há plantas da caatinga, como o umbuzeiro, utilizadas ainda como alimento.

Albuquerque pesquisa a relação entre as pessoas e as plantas no Semi-Árido desde 1998. Chamado de etnobotânica, esse ramo da ciência leva em conta aspectos econômicos, sociais, culturais e biológicos, tendo em vista a conservação e manejo da biodiversidade. O trabalho é desenvolvido na zona rural de Alagoinha, distante 232 quilômetros do Recife, com 30 famílias.

Na opinião de Albuquerque, não são os moradores do Semi-Árido o que mais ameaça as cinco espécies de plantas. No levantamento realizado no local, ele constatou que as famílias exploram racionalmente as árvores. "Eles têm conhecimento da quantidade de cascas que podem tirar de cada árvore, contribuindo para a manutenção da espécie no ambiente", afirma.

O pesquisador, que trabalha na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que pessoas estranhas à comunidade costumam retirar a casca indiscriminadamente. "O produto é vendido para atravessadores, que o repassam para os raizeiros de feiras livres e mercados públicos", explica Ulysses Albuquerque, representante no Nordeste da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia e pesquisador do WWF até setembro de 2001.
O pesquisador defende uma política de conservação para as plantas de uso medicinal. Para ele, é preciso haver o controle do seu comércio, evitando a extinção. "Além de serem intensamente utilizadas, não existem o cultivo dessas plantas e suas populações estão sendo reduzidas", avalia.


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