Estudo confirma contaminação transgênica do milho no Uruguai
Estudo recém publicado pela revista Environmental Biosafety Research revela que pesquisadores da Universidad de la República confirmaram contaminação do milho em situações reais de cultivo no Uruguai.
A equipe do Dr. Pablo Galeano avaliou cinco áreas com potencial de cruzamento entre o milho transgênico e o convencional. Em três delas foi comprovada contaminação pela plantação transgênica que estava na redondeza. Nas outras duas áreas uma diferença entre datas de plantio ou do pico do florescimento das lavouras evitou o cruzamento ou reduziu-o a quantidades não detectáveis pela amostragem empregada.
A confirmação do cruzamento veio de plantas germinadas a partir de sementes colhidas de espigas das plantações convencionais: 0,56% de plantas contaminadas de áreas distantes 40 metros, 0,83% de áreas distantes 100 metros e 0,13% de áreas a 330 metros. Destaca-se que entre as lavouras distantes 100 metros havia uma faixa de 30 metros de eucalipto com árvores com alturas entre 8 e 12 m.
Com o plantio liberado em 2003 (milho MON810) e 2004 (milho Bt11), as regras uruguaias determinam que pelo menos 10% da área com milho transgênico seja de refúgio com milho convencional para retardar o desenvolvimento de pragas resistentes. Além disso, impõe-se distância mínima de 250 metros de isolamento entre a lavoura modificada e as demais.
No Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança entende que o desenvolvimento de pragas resistentes não é questão de biossegurança e deu de ombros para o assunto. A questão ficou a cargo das empresas, que apenas recomendam o plantio do refúgio. Já a distância de isolamento foi aqui definida (somente após determinação judicial) com sendo de 20 metros mais 10 fileiras de milho comum ou 100 metros.
Outros estudos apontam a velocidade do vento como sendo a principal variável a determinar a quantidade de pólen que será dispersa pelo ar. Uma vez liberado das flores, as correntes de ar determinarão a distância e tempo de vôo do grão de pólen. Sua longevidade é afetada pela temperatura e umidade do ar e pode durar entre 1 e 24 horas.
Para além desses fatores, o estudo de Galeano e equipe discute a influência de outras variáveis sobre as taxas de contaminação, como a existência de mais de uma fonte de pólen transgênico e o tamanho das áreas com cada tipo de semente. São critérios variáveis só encontrados em situações reais de cultivo e que permitem conclusões e recomendações muito mais apuradas do que estudos controlados em pequenas parcelas onde estuda-se a distância atingida pelo grão de pólen a partir do isolamento de outras variáveis.
Os resultados do estudo apontam que a fertilização cruzada pode ser uma situação comum no Uruguai, especialmente quando isolamentos no tempo e no espaço não são adotados. O estudo produziu dados que colocam em xeque a eficácia da regra nacional que determina 250 metros, e gera informações relevantes para a conservação in situ de recursos genéticos, para a agricultura orgânica, para a produção de sementes de milho e para políticas que visem garantir a coexistência entre sistemas de produção.
Mais uma vez, a necessária regulação da tecnologia corre atrás do prejuízo.
Fuente: AS-PTA