Brasil: O que é glifosato e porque você deveria saber isso

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A popularidade do glifosato foi coroada quando a Monsanto começou a produzir plantas geneticamente modificadas para resistir ao glifosato. Ou seja: a Monsanto produz um defensivo agrícola que mata todas as plantas e produz também plantas transgênicas que são resistentes a esse defensivo.

Glifosato é uma molécula química sintetizada, usada como herbicida. Basicamente, o glifosato age bloqueando a rota do ácido chiquímico em plantas e ervas daninhas e interrompendo a produção de três aminoácidos. Em outras palavras, as plantas morrem porque não conseguem sintetizar proteínas. O glifosato é também o ingrediente ativo do RoundUp, da Monsanto, o herbicida mais amplamente utilizado no mundo.

Porém, nem tudo segue como dantes no quartel de Abrantes. Em março desse ano, estudos desenvolvidos pela International Agency for Research on Cancer (IARC), um braço de pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que o glifosato é um provável carcinógeno humano. A posição da OMS, como era de se esperar, gerou controvérsias. Apesar de algumas pesquisas sugerirem que pessoas que trabalham com o herbicida têm um risco maior de desenvolver um tipo de câncer chamado linfoma não-Hodgkin, um estudo chamado American Health Study não achou conexões entre o uso de glifosato e o desenvolvimento de linfoma não-Hodgkin.

No entanto, outras pesquisas que ligam a exposição ao glifosato ao crescimento de tumores em ratos e a danos a células humanas foram as evidências usadas pelo IARC para a classificação do herbicida como provável carcinogênico. O glifosato agora ocupa a categoria 2A em uma escala de classificação de compostos: o grupo 1 é para agentes que são definitivamente carcinógenos para humanos; o grupo 2A, provavelmente carcinógenos para humanos; o grupo 2B, possivelmente carcinógenos para humanos; grupo 3, não classificáveis; e grupo 4, provavelmente não carcinógenos para humanos.

Em função da classificação do IARC, o Ministério Público Federal (MPF) brasileiro enviou um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pedindo a conclusão da reavaliação toxicológica do glifosato e recomendando que o produto seja banido do mercado nacional. Também foi instaurado um novo inquérito civil, que visa apurar se há necessidade de cancelar as liberações de venda de sementes transgênicas. O procurador da república Anselmo Carneiro Lopes está otimista em relação ao desfecho da análise da Anvisa e acredita que a agência vai acatar com a recomendação de banir o glifosato. A Monsanto respondeu ao pedido do MPF com uma nota, aonde afirma que os produtos à base de glifosato são seguros tanto para a saúde humana como para o meio-ambiente.

Além dos estudos que apontam o glifosato como um composto carcinogênico, há também outras pesquisas que relacionam o produto ao desenvolvimento de doenças como Alzheimer, Parkinson e até mesmo autismo. Stephanie Seneff, pesquisadora sênior do MIT, sugere que o autismo não é apenas uma doença genética, mas que pode ser causada por fatores ambientais. Seneff aponta que testes mostram a presença de altas quantidades de glifosato na urina e o no leite materno dos americanos e relaciona o aumento da incidência de casos de autismo nos últimos anos com o consumo de glifosato, traçando sintomas em comum entre o autismo e a contaminação com o herbicida.

Como já foi dito, o glifosato interfere na rota do ácido chiquímico em plantas e outras ervas daninhas. Alguns cientistas afirmam que, como células humanas não possuem a rota do ácido chiquímico, a exposição ao glifosato não seria prejudicial à saúde humana. Porém, em um estudo publicado no periódico Entropy, em co-autoria com Anthony Samsel, Seneff sugere que as bactérias que formam a flora intestinal possuem essa rota, e, portanto, que o glifosato interfere com a ação dessas bactérias, benéficas à nossa saúde, causando problemas no sistema imune. É através das bactérias do intestino que o glifosato age no corpo humano. A conexão entre a flora intestinal e o funcionamento neurológico humano, porém, ainda está sendo aprofundada em estudos. A contribuição de Seneff, no entanto, representa mais um importante passo para o mapeamento das consequências do uso de defensivos agrícolas na saúde humana.

Fonte: Movimento dos Pequenos Agricultores

Temas: Agrotóxicos, Salud, Transgénicos

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