A ineficácia do algodão transgênico Bt

Os pesquisadores verificaram o que é anunciado há tempos pelos críticos da tecnologia: o desenvolvimento de resistência nos insetos-praga, o surgimento de novas pragas e a perda de eficácia da planta Bt, que acaba por não reduzir, ou até aumentar a quantidade de agrotóxico usada

Car@s Amig@s,

Diferentes estudos e relatórios já foram produzidos pelo mundo mostrando a ineficácia do algodão transgênico Bt, que produz em suas células uma toxina letal a algumas lagartas. Desta vez, os resultados de um estudo feito nos Estados Unidos chegaram aos grandes jornais, inclusive aqui no Brasil. Os pesquisadores verificaram o que é anunciado há tempos pelos críticos da tecnologia: o desenvolvimento de resistência nos insetos-praga, o surgimento de novas pragas e a perda de eficácia da planta Bt, que acaba por não reduzir, ou até aumentar a quantidade de agrotóxico usada.

As plantas Bt foram desenvolvidas a partir da introdução de genes de uma bactéria do solo chamada Bacillus thuringiensis (por isso o nome “Bt”), que produz proteínas inseticidas. Assim, ao se alimentarem das plantas Bt, os insetos morreriam.

Para os pesquisadores da universidade de Cornell, o ganho de resistência é ainda mais acelerado quando plantas que produzem um único tipo de proteína a partir do Bt são cultivadas próximas a plantas que produzem dois tipos de proteínas derivadas do Bt. Nesses casos, o ganho de resistência pelo inseto inviabiliza também a planta com o duplo Bt. Para os pesquisadores, no entanto, a saída seria retirar do mercado as plantas com o Bt simples, incentivar o uso do Bt duplo e adotar o plantio de zonas de refúgio com algodão não-transgênico para garantir a multiplicação de insetos susceptíveis à toxina do algodão Bt. Do ponto de vista prático, como imaginar por aqui a adoção dessas zonas de refúgio, que dependeriam do empenho do Ministério da Agricultura, se este não coíbe nem a entrada ilegal de transgênicos não autorizados no País (vide os casos da soja, do algodão e do milho)? Ou então na China, onde os agricultores cultivam em média áreas de meio hectare?

Também já foi verificado que a eficácia da toxina que deveria proteger o algodão Bt do ataque de lagartas declina conforme a cultura avança em seu ciclo. Desta forma, um ataque de insetos reincidentes na mesma área, alguns dias mais tarde, já pode encontrar uma planta que não apresenta o mesmo nível de expressão da toxina Bt e, portanto, tem menor capacidade de afetar os insetos que dela se alimentam. Ainda no caso do algodão, também foi verificado que as plantas geneticamente modificadas são mais susceptíveis a outros grupos de insetos, como os que sugam a seiva da planta. Assim, qualquer possível redução de uso de agrotóxico resultante do controle da lagarta pelo Bt é suplantada pelas aplicações para controlar os sugadores.

O mesmo vem acontecendo com a soja resistente a herbicida. As plantas espontâneas vão adquirindo resistência ao produto e os agricultores passam a carregar nas doses de herbicida à base de glifosato. Quando este já não resolve mais, entram em cena outros produtos mais tóxicos. No Rio Grande do Sul, os cultivos de inverno como aveia e trigo agora disputam espaço com a “soja voluntária” que germina a partir de grãos que ficaram no campo após a colheita. Estas plantas não são controladas pelo glifosato. Além disputar espaço com os cultivos de inverno como aveia e trigo, a soja voluntária que vegeta entre dois ciclos da própria soja representa grande potencial para a proliferação da ferrugem asiática. Para evitar que a soja voluntária cresça livremente e facilite as condições para o fungo causador da ferrugem se multiplicar, herbicidas à base de 2,4-D, produto que dá origem a dioxinas, conhecido grupo de compostos carcinogênicos, vêm sendo apontados como solução.

Quem mesmo que disse que a adoção de plantas transgênicas iria reduzir o uso de agrotóxicos?

Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Número 309 - 27 de julho de 2006
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil

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