Ampla revisão da literatura científica internacional aponta falta de consenso acerca da segurança dos transgênicos à saúde
A controvérsia sobre a segurança alimentar dos produtos transgênicos segue completamente aberta em todos os níveis. Essa é a conclusão da mais recente revisão da literatura científica, publicada na última edição da revista Environment International.
José Domingo e Jordi Bordonaba, pesquisadores do Laboratório de Toxicologia e Saúde Ambiental da Universidade Rovira I Virgili, Espanha, varreram registros sobre o assunto desde 1980 em duas das principais bases de publicações especializadas. O mesmo trabalho havia sido feito por Domingo em 2000 e 2007 ( Boletim 376).
Em 2000, a conclusão foi a de que não havia informação suficiente publicada acerca da segurança dos alimentos transgênicos em geral, nem sobre as plantas transgênicas, em específico. Chamou atenção à época sobretudo a ausência de estudos toxicológicos.
Análise semelhante repetida após 7 anos chegou praticamente às mesmas conclusões: o número de referências encontradas nas bases de dados era ainda surpreendentemente limitado. Com isso, em 2007 Domingo concluiu que se existissem avaliações toxicológicas sobre os efeitos dos transgênicos, seus resultados não haviam sido reportados em revistas científicas e não estavam, portanto, disponíveis ao escrutínio científico.
Já esta última revisão apontou aumento significativo do número de citações nos últimos anos. Apesar disso, permanecem muito limitados os estudos focados na demonstração da segurança dos transgênicos à saúde.
Além do crescimento numérico das publicações, outra novidade identificada foi que agora há um certo equilíbrio no número de grupos de pesquisadores sugerindo, por um lado, que alguns produtos transgênicos (principalmente soja e milho) são tão seguros e nutritivos quanto os convencionais e, por outro lado, aqueles que, também com base em seus estudos, levantam sérias preocupações a respeito.
Não menos importante destacar que o levantamento ainda aponta que a maior parte dos estudos que demonstraram a segurança dos produtos transgênicos foram conduzidos por empresas de biotecnologia ou associados.
Entre 2006 e 2010 foram realizadas outras três revisões de literatura. No geral, seus autores enfatizam que mais esforços científicos são necessários para que se construa maior confiança na avaliação e aceitação dos produtos transgênicos, tanto pelo meio científico como pela população no geral.
A conclusão poderia não ser tão relevante se essas plantas estivessem ainda confinadas em fase de testes e se os órgãos reguladores não se pautassem pela agenda comercial. Mas não é o caso.
Fuente: AS-PTA