Empresas têm até 15 dias para recolher produtos suspeitos de conter organismos geneticamente modificados São Paulo proíbe transgênicos sem rótulo

A Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo determinou ontem que nove produtos com suspeita de conter transgênicos em sua composição sejam recolhidos dos locais de venda em até 15 dias

A determinação cumpre uma lei estadual de dezembro de 1999. Segundo a lei, os rótulos dos alimentos precisam informar se os produtos contêm organismos geneticamente modificados em sua composição.

A lista dos suspeitos de conter transgênicos foi elaborada pelas organizações não-governamentais Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) e Greenpeace. A lista foi divulgada em junho.

Testes feitos a pedido das entidades em laboratórios europeus acusaram a presença de transgênicos em 11 produtos comercializados no país. Nenhum deles diz em seu rótulo que há ou pode haver transgênicos na sua fórmula.

O teste do Greenpeace envolveu 11 produtos. Desses, 3 apresentaram ingredientes transgênicos. Já o exame feito pelo Idec foi mais amplo, avaliando 31 produtos, dos quais 9 apresentaram composição geneticamente modificada. Alimentos conhecidos, como a sopa Knorr, o macarrão Cup Noodles e o leite infantil Nestogeno com soja apresentaram traços de transgênicos. Seis deles são importados, provenientes dos EUA, do México e da Bélgica.

No dia 26 de julho, o Idec mandou uma carta à Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo e às vigilâncias sanitárias de todos os outros Estados solicitando o recolhimento dos nove produtos.

Até o final da tarde de ontem, as empresas ainda não sabiam se iriam recolher ou não os produtos. Pelo menos uma delas, a Gourmand Alimentos, já havia tirado de circulação o salgadinho Bac'On, importado dos EUA.

"Queremos saber antes quais são as provas de que eles contêm transgênicos", disse à Folha Edmundo Klotz, presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos).

Klotz diz não saber qual foi a metodologia dos testes feitos a pedido das ONGs. Segundo ele, a Abia não recebeu um laudo das análises para poder contestá-las e pedir que os testes sejam refeitos. "Estamos sendo acusados sem saber do quê", afirmou.

A presidente do Idec, Marilena Lazzarini, disse que o resultado das análises foi encaminhado a cada uma das empresas na época em que os testes foram feitos. O teste para identificar a presença de transgênicos é feito com o auxílio de uma reação de polimerase em cadeia, conhecida como PCR. A técnica permite multiplicar fitas de DNA para facilitar a identificação de uma sequência específica. O método é eficiente, mas está sujeito a erros por contaminação.

CLAUDIO ANGELO
Folha de São Paulo, Brasil, 02 de agosto de 2000

Comentarios