Desmatamento ainda responde por mais da metade do CO2 lançado pelo Brasil

Idioma Portugués
País Brasil

Estudo divulgado ontem pelo Ministério do Meio Ambiente mostra que o desmatamento é responsável por pouco mais da metade (51,9%) das emissões de dióxido de carbono do país

A segunda atividade que mais contribui para o aquecimento global é a agropecuária, com 25% das liberações, seguida pelo setor de energia, com 20%. A indústria é responsável por apenas 1,7% das emissões e o tratamento de lixo e esgoto, por 1,4%. Os dados dizem respeito à estimativa de emissões brasileiras em 2007, ano em que o país teria lançado na atmosfera cerca de 1,9 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (soma das liberações de gás carbônico, metano e óxido nitroso).

A reportagem é de Bernardo Mello Franco e publicada pelo jornal O Globo, 28-10-2009.

Em 1994, data do último levantamento semelhante, o desmatamento respondia por 55,2% das emissões brasileiras de gases ligadas ao efeito estufa. Já a participação do setor energético saltou de 17% para 20% no período, registrando crescimento individual de 54% em 13 anos. A diretora de Mudanças Climáticas do ministério, Branca Bastos Americano, disse que houve uma clara mudança no perfil das emissões brasileiras.

— Constatamos uma redução da participação do desmatamento e um aumento expressivo das emissões do setor de energia.

As emissões do setor energético incluem a poluição causada por usinas elétricas, queima de combustíveis no transporte e abastecimento de energia doméstica, entre outras atividades. Na agropecuária, o aumento das liberações de carbono foi de 30%, sendo 25% na criação de gado e 39% nas lavouras.

No entanto, a participação do setor no total de emissões brasileiras permaneceu inalterada, em 25%. Também houve crescimento nas emissões da indústria (56%) e do tratamento de resíduos (32%), mas ambos continuaram a influir pouco na soma das emissões.

Minc diz que desmatamento zero na Amazônia não é factível O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a Embrapa já apresentou propostas para reduzir as emissões na atividade rural.

Entre elas, estão o aumento da produtividade do solo, a recuperação de 11 milhões de hectares de áreas degradadas e o incentivo ao plantio direto, técnica que reduz o uso de fertilizantes. Segundo Minc, a combinação dessas três medidas pode reduzir em 7% o total das emissões brasileiras até 2020.

— A pecuária brasileira ainda é muito improdutiva. A Amazônia tem áreas com menos de um boi por hectare. Estamos desmatando muito e emitindo muito carbono.

Minc repetiu a promessa de reduzir em 40% as emissões de dióxido de carbono projetadas para 2020. A meta foi calculada de acordo com um cenário de crescimento da economia de 4% ao ano. Segundo Minc, o país poderá alcançar o mesmo corte com um crescimento anual de até 5% na próxima década. Embora a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, tenha pedido novos cálculos para uma taxa de crescimento de 6% ao ano, ele disse que o cenário é “altamente improvável”.

— Nunca na história brasileira a economia cresceu 4% ao ano durante uma década. Essa taxa de 6% é improbabilíssima, a não ser que a gente tome um chá chinês e tenha uma linha chinesa de crescimento.

Mais cedo, o Greenpeace fez um protesto na Esplanada dos Ministérios para que o país assuma metas mais rígidas de redução das emissões de carbono. Os manifestantes pediram que o governo assuma o compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia. Minc reclamou da pressão.

— Eu quero desmatamento zero, pobreza zero e analfabetismo zero. Quando você diz que vai reduzir o desmatamento em 80%, sempre perguntam se você é a favor dos outros 20%. A gente tem que ser menos propagandístico e mais realístico.

Instituto Humanista Unisinos, Internet, 28-10-09

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