Brasil: milho transgênico chega antes do previsto
O milho transgênico Bt está chegando aos produtores brasileiros seis meses antes do previsto. A Dekalb começou a comercializar sementes com a tecnologia YeldGard, da Monsanto. A Syngenta informa que vai lançar o Agrisure TL antes da safra de verão, a ser plantada a partir de setembro.
As associações de produtores de sementes do país previam que só haveria milho transgênico nas revendas às vésperas da safrinha do ano que vem. O gerente de Milho e Sorgo da Monsanto, César Barros, afirma que parte das sementes Dekalb vem da Argentina e parte foi produzida no Brasil. Ele diz que o volume é "pequeno", mas permitirá o plantio para destinação à indústria de alimentos.
As indústrias não revelam a quantidade de semente que estará disponível antes da safra de verão. Preferem manter sigilo também sobre onde o produto é cultivado e não divulgam ainda a rede de distribuição. O produtor interessado precisa percorrer os pontos de venda para encontrar milho Bt.
Apesar de o cultivo ter sido aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e pelo Conselho Nacional de Biossegurança (CNB), os produtores preferem não identificar as áreas de milho Bt. Eles temem ações do movimento contrário à liberação dos transgênicos. Um produtor de Coronel Vivida (Sudoeste do Paraná) revela que comprou semente Bt no município para testar. Ele prefere não ter seu nome divulgado. Vai usar semente transgênica em 10 dos 500 hectares que dedica à cultura. "É o primeiro ano. Vamos plantar para testar. Na safra que vem é que todo mundo vai definir a área do milho transgênico."
Além dos milhos Bt da Monsanto e da Syngenta, o Liberty Link da Bayer CropScience -- transgênico tolerante a herbicida -- também teve o plantio comercial aprovado no Brasil. No entanto, a empresa informa que ainda não tem previsão de quando vai lançar o produto, porque decidiu esperar o fim do trâmite do processo para se dedicar à multiplicação de sementes.
A ação civil pública que questiona a liberação comercial do milho transgênico na Justiça Federal de Curitiba acaba de completar um ano. Organizações como a Terra de Direitos conseguiram suspender temporariamente decisões da CTNBio. No entanto, as liminares foram derrubadas pela União em instância superior. Na avaliação de Maria Rita Reis, advogada que representa a organização, o milho transgênico chega às lavouras sem que o produtor tenha sido instruído sobre a segregação do produto. A distância de 100 metros entre lavouras convencionais e transgênicas, definida pela CTNBio, ainda precisa ser regulamentada pelo Mapa, aponta. "A contaminação entre as lavouras vai acontecer e a responsabilidade vai recair sobre o produtor, que poderá ser processado por danos à cadeia do frango, por exemplo", afirma.
Fonte: Gazeta do Povo - Curitiba, 29/07/2008.
BOLETIM 405 - POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS