Gramas transgênicas da Scotts Grass: ausência de estudos sobre o potencial impacto ambiental dos experimentos

Divulgamos em dezembro de 2007 (Boletim 371) que a empresa Scotts Grass fora condenada a pagar multa de 500 mil dólares por ter descumprido as regras americanas sobre condução de experimento a campo com plantas transgênicas. A empresa testava uma grama usada em campos de golfe que fora modificada em parceria com a Monsanto para ser resistente a herbicidas à base de glifosato. A decisão abarcava os experimentos com bentgrass (Agrostis spp.) em Oregon e outros 20 estados.

Agora, um novo estudo confirma que o transgene da grama transgênica não só foi encontrado fora da área dos campos experimentais, como continuou a se espalhar durante 3 anos após a interrupção do experimento.

O estudo, conduzido durante 4 anos e publicado no Journal of Applied Ecology, descobriu que, em 2006, 62% das 585 gramas não-transgênicas testadas nas áreas próximas ao campo experimental eram resistentes ao glifosato. Os experimentos com a grama transgênica tiveram início em 2002 e foram interrompidos após a colheita de sementes em 2003.

Uma descoberta semelhante havia sido feita em 2006, quando a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, em inglês) encontrou exemplares de bentgrass transgênica a quase 4 km de distância de onde ela havia sido plantada. Acredita-se que a grama transgênica tenha se espalhado tanto através da polinização como pela dispersão de sementes.

O novo estudo relata que a grama transgênica foi encontrada a 4,6 km dos campos experimentais e indica a possibilidade de ela ter ido mais longe. Um estudo anterior, publicado em 2004 por pesquisadores do EPA em Corvallis mostrou que pólen de um campo experimental da grama foi disperso a até 21 km na direção do vento, superando muitas das estimativas existentes.

Estas descobertas confirmam preocupações anteriores de que a bentgrass transgênica, sendo uma planta perene, persistiria ao longo dos anos tornando praticamente impossível o seu controle ou erradicação. Como a bentgrass tem muitos parentes nos EUA com os quais pode cruzar, sua presença persistente também aumenta as chances de transferência do gene de resistência ao glifosato para outras espécies.

Vale mencionar que a contaminação de 62% das gramas não-transgênicas testadas nas áreas próximas ao local onde havia sido conduzido o experimento se deu apesar de ter sido implantado um intensivo e amplo programa de mitigação da contaminação (ainda em curso), o que reforça a opinião de que a eliminação dos transgenes que escaparam dificilmente será possível.

A ação que resultou na multa aplicada à Scotts em 2007 havia sido interposta pela ONG Center for Food Safety e parceiros em 2003, alegando que o Serviço de Inspeção Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (APHIS, na sigla em inglês) violara normas ambientais ao aprovar os campos experimentais sem determinar se a grama era uma espécie invasora e se poderia cruzar com plantas nativas.

Em março de 2008, a Corte Federal de Apelações dos EUA rejeitou o recurso da Scotts, colocando um fim na longa disputa em torno da aprovação do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA, em inglês) para os campos experimentais a céu aberto com gramas transgênicas tolerantes ao glifosato (Roundup Ready) na ausência de estudos sobre o potencial impacto ambiental dos experimentos. A Corte também decidiu que o USDA terá que reavaliar se as gramas transgênicas são plantas invasoras agressivas de acordo com a Lei de Proteção das Plantas (Plant Protection Act).

O USDA não recorreu da decisão e, ao invés disso, instituiu novas políticas no âmbito do NEPA (Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, na sigla em inglês) para futuros campos de testes.

--
Com informações de:

- Third World Network Biosafety Information Service
Escape and Persistent Presence of Transgene from GM Bentgrass
www.biosafety-info.net e www.twnside.org.sg

- Journal of Applied Ecology 2008, 45, 486–494
Escape and establishment of transgenic glyphosate resistant creeping bentgrass
Agrostis stolonifera in Oregon, USA: a 4-year study
M. L. Zapiola (1) (*), C. K. Campbell (2), M. D. Butler (2) and C. A. Mallory-Smith (1)

- Nota à imprensa do Center for Food Safety, 19/03/2008.
D.C. Circuit Court says "No" to Scotts and Monsanto on Biotech Grasses

Fonte: Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Boletim Número 391 - 02 de maio de 2008

Comentarios