Brasil: liberação de transgênicos

Idioma Portugués
País Brasil

A ocupação das Mulheres ligadas à Via Campesina - entidade que reúne movimentos sociais do campo – a uma unidade de pesquisa da multinacional estadunidense Monsanto, reacendeu o debate sobre os problemas que os alimentos modificados em laboratório - os transgênicos - podem trazer para ao meio ambiente e a saúde humana

A ação no interior São Paulo foi uma reação à aprovação de duas variedades de milho transgênico para comercialização da multinacional Monsanto e da Bayer pelo governo Lula.

Há muitas dúvidas em relação aos transgênicos, não são somente dos movimentos sociais e ambientalistas. Uma pesquisa realizada a pedido da Organização Não-Governamental Greenpeace, apontou que mais de 80% dos brasileiros são contra o plantio de transgênicos. A rejeição pode estar relacionada ao fato de que ainda não existem estudos científicos que garantam que esse tipo de alimentos não causa efeitos negativos para a saúde humana.

Para entender um pouco melhor essa relação entre homem, transgênico, meio ambiente e as grandes empresas, a Radioagência NP, entrevistou o pesquisador do curso de doutorado em desenvolvimento sustentável da Universidade de Brasília e integrante do setor de produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Pedro Christoffoli.

Radioagência NP - Qual a sua avaliação da decisão da CTNbio pela aprovação das variedades de milho transgênico?

Pedro Christoffoli: A CTNbio tem claramente uma postura irresponsável do ponto de vista histórico em relação a liberação dos transgênicos. Esse milho transgênicos foi liberado em um contexto de rebaixamento de todas as exigências e cuidados em relação à questão ambiental, a questão da contaminação genética do milho crioulo e assim por diante. O milho tem uma fertilização aberta, ou seja, o pólen dele viaja distâncias muito grandes. Isso tem impacto ambiental e impacto sobre a biodiversidade enorme, diferentemente da soja, que tem sua ação auto-polinizadora fechada.

RNP - O governo brasileiro está tratando de forma adequada a questão dos transgênicos ilegais?

PC: O Estado Brasileiro está sendo conivente com o plantio ilegal de transgênicos. É só ver o caso da Monsanto, ela se silenciou na questão da introdução ilegal da soja transgênica, que foi o caso mais emblemático, mas também no caso do milho e do algodão. Quer dizer, ela fecha os olhos para a introdução ilegal do transgênicos e depois que tem uma grande área ilegal plantada, força o governo a liberar o cultivo dos transgêncios. Depois acusa os movimentos sociais de agir ilegalmente e aciona o poder do Estado. Nós temos um problema de dois pesos e duas medidas, trabalhador tem que se submeter à lei e à ordem da burguesia e a burguesia não se submete à lei e à ordem porque subverte isso com maior cara-de-pau, nos não aceitamos isso e nem devemos aceitar.

RNP: O que pode acontecer com o agricultor que plantou orgânico e teve sua lavoura contaminada por transgênicos?

PC: Por exemplo, se o agricultor plantar milho e esse milho for contaminado, na hora que ele for comercializa-lo será feito um teste, esse teste vai identificar se o milho é transgênico ou não. Se for transgênico, automaticamente o agricultor será obrigado a pagar uma taxa conhecida como royalities para essa empresa detentora da tecnologia. A empresa tem o direito legal de cobrar. Isso não é legitimo, isso é uma sacanagem. O que isto significa, mesmo que o agricultor esteja a milhares de quilômetros da Monsanto, se a lavoura dele for contaminada, ele terá que dedicar dias do seu trabalho para pagar a Monsanto, ela estará explorando o trabalhador mesmo sem ter ligação formal nenhuma com a empresa. Do ponto de vista do capital esse é o grande salto que os transgênicos representam.

RNP: O que você acha dos transgênicos como tecnologia?

PC: A transgenia em si, como tecnologia, como avanço que a humanidade conquistou do ponto de vista de permitir manipulação de elementos da natureza para aproveitar da possibilidade de desenvolvimento no meu ponto de vista é legítima. Legítima desde que seja cercada de uma série de precauções. Podemos utilizar da transgenia como uma técnica que permitiria enfrentar problemas que nos humanos estamos enfrentando.

Podemos usar a transgenia para desenvolver cultivos que sejam resistentes à seca. Mas qual é a questão? No Brasil e no mundo em geral estamos subordinados a lógica do capital, e aí o capital usa a transgenia e as técnicas ao seu favor e interesse que é somente o aumento da lucratividade.

Radioagência NP, Internet, 14-3-08

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