Brasil: Via campesina protesta contra o atual modelo energético e a construção de barragens
Dando continuidade a jornada de luta das Mulheres da Via Campesina, hoje, manifestações acontecem em 7 estados do país. O foco das ações são as hidrelétricas, por ocasião da data do 14 de março, dia internacional de luta contra as barragens.
O 14 de março é, todos os anos, um dia de atos e protestos mundiais contra a construção de barragens, em defesa da vida e da natureza e pelos direitos dos atingidos. Segundo o relatório final da Comissão Mundial de Barragens (órgão ligado a ONU), no mundo, cerca de 80 milhões de pessoas foram atingidas direta ou indiretamente pela construção de usinas hidrelétricas. No Brasil, as grandes hidrelétricas existentes já expulsaram cerca de 1 milhão de pessoas, e destas, 70% ainda não foram devidamente indenizadas.
Nesta semana, o Via Campesina, da qual faz parte o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), está mobilizada em vários estados com o objetivo de reivindicar o direito dos atingidos, de questionar o atual modelo energético e de sensibilizar a população para o roubo no preço da energia.
Hoje (11/3), estão acontecendo protestos nos seguintes estados:
Em Rondônia, cerca de 700 Atingidos ocuparam a Unidade Termelétrica Rio Madeira no Bairro Nacional, em Porto Velho. A manifestação tem como objetivo reivindicar da estatal Eletronorte a solução de problemas antigos das famílias atingidas pelas barragens de Samuel, e das famílias ameaçadas pela construção do Complexo Madeira.
Na divisa entre SC e RS, 400 pessoas atingidas pela Usina Hidrelétrica de Machadinho iniciaram uma manifestação na entrada da Usina. Os agricultores e agricultoras reivindicam a solução de problemas acarretados pela construção da usina que são: questões de infra-estrutura comunitárias, solução para problemas ambientais, melhora na qualidade de energia, diminuição da tarifa de energia elétrica e questões de desenvolvimento regional.
Em Tocantins, 200 atingidos, ribeirinhos e trabalhadores rurais Sem-Terra ocuparam a entrada da obra da barragem de Estreito. Houve confronto com a polícia, mas ninguém se feriu. Neste momento, estão montando o acampamento na entrada da obra e, até o final da manhã, espera-se a chegada de mais 400 indígenas.
No Ceará, Cerca de 700 atingidos pelas barragens de Castanhão, Jaguaribe e Macito Baturité, ocuparam o canteiro de obras do Canal da Integração. Este canal constitui-se de um complexo de estação de bombeamento, canais, sifões, adutoras e túneis, que realizam a transposição das águas do Açude Castanhão para o Complexo Portuário e Industrial do Pecém, onde se localizam várias indústrias siderúrgicas. Para o MAB, esse canal representa a privatização da água, enquanto os atingidos pela barragem de castanhão vivem em uma situação precária.
Em Erechim (RS), Moradores dos Bairros de Santa Isabel e Polígono 21 se deslocaram na manhã de hoje, até a sede da RGE (Rio Grande Energia) para fazer a entrega coletiva das Autodeclarações que garantem a Tarifa Social de energia (descontos que podem chegar a até 65% na conta de luz)
Na Paraíba, moradores de diversas comunidades da Grande João Pessoa realizarão hoje, às 16h, uma mobilização diante do prédio da distribuidora SAELPA. Os moradores vão exigir o cumprimento da Lei que determina a cobrança da tarifa diferenciada para os consumidores que utilizam até 140 KW/mês (limite regional da Paraíba). É a chamada tarifa social, que a SAELPA e outras concessionárias relutam em cumprir.
No Paraná, 1000 atingidos ocuparam a Usina Hidrelétrica de Salto Santiago, localizada no estado do Paraná, no município de Saudade do Iguaçu (a 40km de Laranjeiras do Sul), no rio Rio Iguaçu. Após privatização, durante o governo de FHC, passou a ser multinacional Tractebel Energia.
Os atingidos protestam contra a resolução da CONAMA (302/2002) que obriga as famílias a ficaram a 100 metros de distância do lago artifical da barragem. Os agricultores e pescadores que utilizavam a beira do lago para subisistência, vão perder este direito.
Fuente: CLOC